No último dia 21, fiz uma palestra para cerca de 600 voluntários de uma organização que nem sequer sabia que existia: o Cidadão Pró-Mundo, uma ONG que oferece aulas gratuitas de inglês em favelas ou áreas de vulnerabilidade em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Nos três estados, a mesma ação competente: uma metodologia estruturada, com livros didáticos oferecidos pela Universidade de Oxford e avaliação de aprendizagem de Cambridge, e alunos que saem fluentes ao final de um curso.
O Cidadão Pró-Mundo começou em 1997, em Capão Redondo, na periferia da zona sul de São Paulo, a partir de uma demanda de jovens do bairro. Funciona em espaços cedidos —muitas vezes em escolas públicas—, impactou diretamente, desde sua criação, mais de 16 mil alunos e mobiliza cerca de 1.600 voluntários.
O que me impressionou inicialmente ao encontrá-los foi a persistência. Conheci, ao longo da vida, muitas ONGs de qualidade variável, mas a taxa de retenção de voluntários entre elas tende a ser baixa, a não ser entre organizações religiosas ou partidárias (o que não é o caso do Cidadão Pró-Mundo).
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Algumas, na melhor das boas intenções, primam por certo amadorismo, numa visão de que qualquer coisa feita pelos mais pobres é válida.
Mas o que mais me marcou foi estar em contato com jovens entusiasmados pelo que fazem, ao doar seu tempo, sempre aos finais de semana, para uma empreitada desse tamanho.
Lembrei-me da célebre frase do Mahatma Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. A frase significa que, em vez de apenas lamentar ou criticar o que vê de errado no seu entorno, você deveria adotar práticas mais corretas e trabalhar para mudar o que percebe como injusto.
E a transformação acaba sendo não só da realidade —no caso, a exclusão educacional em que alunos de classe média têm um nível de inglês que os adolescentes mais vulneráveis não terão em condições normais—, como do próprio voluntário, que desenvolve competências e aprende muito no processo.
Por isso, universidades no exterior (infelizmente as nossas ainda não) e mesmo o mercado de trabalho têm valorizado o voluntariado no currículos de postulantes.
Há também voluntariado na chamada terceira idade, com idosos ajudando em museus, oficinas de arte ou atuando em escolas.
Neste último caso, a presença do idoso em salas de leitura ou atividades de contação de histórias ajuda no desenvolvimento emocional de crianças e no estabelecimento de um diálogo intergeracional.
A doação do tempo, com certeza, transforma as vidas tanto dos beneficiários do trabalho desenvolvido quanto dos próprios voluntários.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 27/07/2018