O voto útil converteu-se no principal protagonista das eleições. Não podia ser diferente dada à forte fragmentação de candidaturas e seu elevado grau de competitividade.
O quadro é consequência do choque da Lava Jato que se abateu sobre os dois partidos que vertebravam a disputa política. A atual foi prefigurada no cenário “bispo contra comunista” do pleito do Rio em 2016.
Candidaturas extremistas só se tornam viáveis quando o centro entra em colapso. Mas no nível federal este foi assimétrico.
Embora a Lava Jato tenha abatido a o líder da antiga oposição e também debilitado brutalmente o PT, o quadro foi parcialmente revertido em relação a este partido. Isto se deveu a três fatores.
Primeiro, a ascensão de Bolsonaro que fez o PT ressurgir das cinzas, o que por sua vez alimentou a própria candidatura do capitão reformado.
Segundo, a prisão de Lula e a estratégia de vitimização perseguida que lhe permitiram tornar-se o ponto focal da cobertura midiática.
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Terceiro, a permanência de Temer à frente da Presidência arrefeceu a memória da hecatombe econômica ocorrida e do petrolão. De quebra, a paralisia decisória resultante solapou a recuperação da economia, diluindo a culpa do PT pela crise.
Neste momento, os eleitores podem ser agrupados em blocos radicalizados à esquerda e à direita, e em um terceiro, ao centro, cada bloco detendo cerca de um terço do eleitorado.
A incerteza concentra-se no primeiro turno. Surgem assim fortes incentivos ao voto útil (pelos eleitores) e a esforços de coordenação (pelas elites partidárias).
Dilemas de coordenação ocorrem sob todas as regras eleitorais embora com intensidade variável. Ele envolve decisões quanto à entrada e saída na disputa política: sobre candidaturas próprias vis-à-vis as de parceiros (a montagem dos palanques federais e estaduais). E sobre como impedir candidaturas rivais (como o PT fez em relação ao PSB). O dilema é assim um jogo de coordenação em dois níveis: local e federal.
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A hora de lançamento de outsiders já passou. O protagonismo agora envolve os eleitores, não os partidos. Mas há lugar para um novo protagonismo das lideranças em torno da formação de uma frente de salvação nacional do centro fragmentado para barrar os riscos do iliberalismo populista à esquerda e à direita.
O alerta de Levitsky, nesta Folha, ignora a recente radicalização anti-institucional do PT. Não estamos em 2002.
Embora fragmentado, o centro tem vantagem estratégica ainda não reconhecida amplamente: bolsonaristas e petistas preferem um candidato de centro a seus antípodas ideológicos. Mas o risco de falhas de coordenação é alto —quem será o ponto focal?
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 17/09/2018