Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) realizou o III Seminário de Análise Conjuntural de 2018. Em entrevista ao Instituto Millenium, o chefe do Centro de Estudos Monetários do IBRE, José Júlio Senna, explicou como o cenário indefinido das eleições afeta a economia brasileira e trouxe um panorama internacional, esclarecendo a forma com que a crise em outros países emergentes tem reflexos no Brasil. Assista!
O cenário indefinido e disputado das eleições tem efeitos diretos na nossa economia. Com o aumento do grau de incerteza, cresce também a dúvida de que os próximos representantes do Executivo e do Legislativo terão capacidade de realizar as medidas de ajuste necessárias para conter o brutal desequilíbrio fiscal do país. Isso inclui a trajetória crescente da dívida pública e os riscos do Brasil não ter condições de quitá-la no futuro.
Tudo isso prejudica os prêmios de risco do país em transações internacionais que, ao subirem, fazem crescer as taxas reais de juros. “Essa situação tem efeitos bastante desagradáveis para a economia, pois uma alta na taxa de juros inibe a atividade econômica, restringe investimentos, e promove dúvidas quanto à veracidade de retornos esperados”, explicou José Júlio, salientando que as empresas não são as únicas atingidas. “A insegurança trazida pelo cenário também afeta as famílias. Elas ficam mais receosas sobre fazer planos e contratar despesas, e no fundo é isso que deve acontecer para a economia andar”.
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Embora não seja a solução para todos os problemas do Brasil, a abertura econômica é uma medida importante para o próximo governo, já que a economia do país está entre as mais fechadas do mundo. Para José Júlio, essa mudança deve acontecer através da redução gradual das barreiras às importações, que são de vários tipos, como tarifárias e de natureza burocrática. “O crescimento das importações traz um bem-estar ao consumidor, que passa a ter acesso a bens e serviços de qualidade. Mas devemos entender o comércio internacional como uma via de mão dupla, porque na medida em que você reduz as barreiras para trazer itens do exterior, há um barateamento no custo de produtos que podemos vender lá fora. Então é de se esperar que, com uma abertura desse tipo, tanto os volumes de importação quanto de exportação cresçam, tornando a economia mais eficiente”.
As incertezas globais e seus efeitos no Brasil
Na opinião de José Júlio, a guerra comercial dos Estados Unidos com a China e outros países tem efeitos indiretos no Brasil, pois ele acaba perdendo pela diminuição no volume de transações entre as nações e encolhimento das oportunidades no resto do mundo. Já a crise em países emergentes possui reflexos mais diretos em solos brasileiros:
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“De agosto para cá, dois países emergentes despontaram como problemáticos, com crises profundas. A Argentina e a Turquia. Eles têm em comum um excesso de dolarização, ou seja, a moeda estrangeira exerce um papel muito importante. A Argentina tem um grande endividamento público, e no caso turco, o setor público até deve pouco, mas o privado tem uma grande dívida em moeda estrangeira. No caso do Brasil, não temos o desequilíbrio externo deles dois, mas possuímos uma vulnerabilidade fiscal importante. A dívida pública brasileira em termos brutos, de 2014 para cá, subiu de 53% do PIB para 77%. Numa primeira fase, a crise nesses países tende a ter um efeito de contágio em cima dos demais emergentes, especialmente daqueles que também têm as suas vulnerabilidades. Depois, os investidores começam a discriminar aqueles que estão em melhor situação. O Brasil tem sofrido com essa crise porque ainda é visto como um país vulnerável pelas suas condições fiscais precárias. Na medida em que o vencedor das próximas eleições mostre pulso firme para fazer esses ajustes, o contagio deverá ficar mais suavizado”.