A economia ganha tração, aumentando as chances de o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano acelerar (estimamos 2,1%). No entanto, a redução da taxa de desemprego será provavelmente lenta, pois há fatores preocupantes que limitam o aumento do emprego.
Primeiro, aparentemente, as empresas ainda têm um contingente relevante de empregados que são subutilizados. A razão entre a produção de bens e serviços e o pessoal ocupado está em patamares muito abaixo daqueles do pré-crise, sugerindo haver espaço para aumento do PIB sem abrir muitas vagas de trabalho.
Segundo, o baixo crescimento do PIB favorece particularmente as grandes empresas, que são mais produtivas e utilizam crescentemente tecnologias poupadoras de mão de obra para se manterem competitivas.
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Terceiro, a taxa de desemprego estrutural (reflete fatores como a qualidade da mão de obra e a rigidez e as fricções no mercado de trabalho) provavelmente elevou-se nos últimos anos, por conta da crise prolongada. Indivíduos que estão desocupados há muito tempo (40% há mais de um ano) e jovens que não conseguem emprego na idade esperada têm sua empregabilidade reduzida pela falta de treinamento. Como se não bastasse, muitos talentos emigram do País. Não são incomuns relatos de empresários sobre as dificuldades para contratar mão de obra qualificada, mesmo com o elevado desemprego.
O economista-sênior da XP Investimentos, Marcos Ross, estima que a taxa de desemprego estrutural está em torno de 10,5%, ante 7% registrada em 2012, não tão abaixo da taxa de desemprego corrente de 12%. Vale registrar que, se assim for, a ociosidade do fator trabalho não estaria tão elevada quanto se imagina, o que significa que o Banco Central teria de reavaliar os níveis inéditos de taxa de juros mais cedo do que se imagina.
O quadro é particularmente difícil para indivíduos entre 18 e 24 anos, cuja taxa de desemprego está em 26%. Na experiência mundial, o desemprego nesse grupo é mais elevado, não só porque a entrada no mercado de trabalho esbarra na falta de referências anteriores, mas também porque os jovens são naturalmente mais inquietos. O que mais preocupa, na verdade, é a elevada e crescente parcela dos que nem trabalham, nem estudam. São os jovens “nem-nem”. Em 2018, eles representavam 24% dos indivíduos entre 15 e 29 anos, ante 13,9% em 2014.
É bem-vinda a preocupação do governo com os jovens de baixa renda. Propõe-se reduzir, por dois anos, a carga tributária sobre o primeiro emprego com carteira com remuneração de até 1,5 salário mínimo.
Não convém, porém, esperar grandes resultados na geração de empregos formais, pelas limitações da medida e pelas consequências do baixo crescimento discutidas acima.
Os jovens menos qualificados estão tão mal preparados para o mercado de trabalho, que o custo da mão de obra seria ainda elevado à luz da baixa produtividade ou capacidade de entrega desse trabalhador.
Além disso, o salário necessário para atrair o jovem de baixa qualificação para o mercado de trabalho (salário de reserva) é provavelmente superior ao oferecido pelo empregador, como sugerido na experiência internacional. Esse comportamento difere daquele do trabalhador mais qualificado, que valoriza muito estar empregado, por reconhecer o risco de ficar defasado, e aceita receber salário inferior ao almejado. Para piorar, no Brasil, a elevada informalidade e as atividades ilícitas provavelmente aumentam o salário de reserva dos jovens de baixa renda.
Para compatibilizar os pontos acima, que afetam a demanda e a oferta de trabalho dos jovens com baixa qualificação – o salário que a empresa está disposta a pagar é inferior ao que faria o jovem de baixa renda querer trabalhar –, seria necessário flexibilizar ainda mais as regras do mercado de trabalho e (urgentemente) melhorar a educação pública, para reduzir o desemprego estrutural no País.
Jovens mais preparados são mais produtivos e têm maiores chances de não se tornarem “nem-nem”, sem emprego e sem estudo. Os Ministérios da Educação e da Economia precisam caminhar juntos.
Fonte: “O Estado de São Paulo”, 14/11/2019