Muito se fala que o Brasil vive hoje uma crise institucional. Não caia nessa. Na verdade, somos um país em crise institucional desde que nos entendemos como Nação, pelo fato de que a relação entre Estado e sociedade é desequilibrada. E entre os Poderes também. Criado pela Coroa como um empreendimento, o Brasil sempre tratou seus cidadãos com desprezo. Sempre privilegiamos as pessoas e não as instituições. Temos sido controlados por elites organizadas que se apropriaram do Estado. Suas ações sempre foram táticas e não estratégicas, destinadas a controlar a fonte de riqueza, como amplamente desvendado pela Operação Lava Jato. Sempre tivemos muitos projetos de poder, mas nenhum projeto de nação.
Agora somos um Estado controlado por corporações de burocratas em aliança com políticos que afirmam sua superioridade por meio de salários privilegiados, benefícios, aposentadorias diferenciadas, excesso de burocracia e serviços de quinta categoria para a população. Propõem um Estado complexo, opaco e de baixa interatividade com a sociedade e se beneficiam disso. Ao pacato cidadão, sobram o fim da utopia e a guerra do dia a dia, como disse o Skank.
Desde sempre fomos uma Nação de pacatos cidadãos, por conta da participação errática no processo político, pela precariedade de nossa educação cidadã, pelo fluxo de informação de baixa qualidade. Em sendo uma sociedade pré-moderna, nossa capacidade de reflexividade é muito baixa. Estamos ainda na pré-história da democracia no mundo. No Brasil, o que é bem pior, ainda estamos no jardim de infância da pré-história, um lugar que o cientista político Thiago de Aragão situou entre a Idade Média e a Renascença. E, em decorrência, a relação entre os Poderes é igualmente desequilibrada. Perseguimos, sem vontade, o equilíbrio de Poderes. Aceitamos, bovinamente, a hegemonia do Executivo, tal qual hoje aplaudimos o ativismo do Judiciário como resposta ao desequilíbrio. Ao desequilíbrio concordamos com mais desequilíbrio. É hora de colocar um freio de arrumação nas instituições e fazê-las trabalhar para a sociedade. Esse deve ser o projeto de nossa Nação.
O pacato cidadão sempre preferiu não se meter no rolo. Acha que sempre foi assim e assim será. Em aceitando a situação, continuaremos a ser mais pacatos do que cidadãos, pagando uma carga tributária de primeiro mundo e usando serviços públicos de terceiro mundo. Pagamos em dobro para ter saúde, educação e segurança enquanto esperamos um salvador da pátria que não existe.
Mas, aparentemente, o pacato cidadão está ficando aborrecido e indignado. O passo seguinte deve ser o de se mobilizar em favor de uma ampla renovação da política. Devemos deixar de ser pacatos, devemos ser mais cidadãos, atuando em favor de um projeto de nação que queremos para nossos netos. Já que para os filhos não há muito a fazer.
Fonte: “Isto é”, 07/07/2017.
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