Na década de 80, um número sem precedentes de empresas varejistas fechou as portas independente de porte, da situação econômica e financeira que apresentavam antes do período de hiperinflação e dos planos heterodoxos.
O fenômeno inflacionário foi causado pelos governos irresponsáveis que caracterizaram o Brasil da metade do século XX até a implantação do Plano Real e fazia com que produtos fossem comprados por um preço a prazo e vendidos à vista por um preço muito inferior. Vale ressaltar que, se Plano Real não eliminou os problemas decorrentes da intervenção estatal desenfreada no mercado, pelo menos os mitigou.
Naquela época existia a crença de que girando o dinheiro no “open market”, como era chamado o mercado de títulos públicos com liquidez e taxas de correção diária, se poderia ter ganho financeiro maior do que o lucro mercantil propiciado pela diferença entre o preço de venda e o preço de custo.
Exemplifico assim:
Se uma geladeira custava na fábrica para pagamento à vista R$ 1.000,00 e para pagamento a prazo em 60 dias R$ 2.000,00, ela era vendida à vista por R$ 1.600,00 na expectativa de que o dinheiro fosse aplicado e quando vencesse o boleto do fornecedor o lojista tivesse R$ 3.200,00 aplicados em OTNs ou LTNs.
Como a concorrência era enorme, nem sempre o giro da mercadoria permitia que o lojista vendesse com rentabilidade mercantil ou financeira, o que o obrigava a liquidar a mercadoria para pagar suas contas.
Havia ainda os créditos tributários que eram maiores nas compras a prazo porque o ICMS na época incidia sobre o valor nominal da mercadoria e não sobre seu valor à vista, deduzida a correção monetária estimada para o período que era embutida no preço final do produto.
Eram tantos os fatores a serem gerenciados que não houve quem não tenha perecido tentando utilizar desses mecanismos para ganhar ou manter mercado.
No fim, viu-se que a mistura da gestão mercantil com a financeira para ganhar mercado era uma ilusão que se tornou uma política comercial autofágica.
As poucas redes de varejo sobreviventes foram as que financiavam suas próprias carteiras de crédito, pois atuavam em mercados onde não existia concorrência local (ou ela era tênue), permitindo que houvesse ganho mercantil na venda dos produtos.
Tudo isso ocorreu numa época em que os clientes tinham que ir pagar seus carnês nas lojas, pois não existia internet e porque era desejo dos lojistas que seus prestamistas voltassem à loja para novas compras.
Naqueles tempos, cartão de crédito era artigo de luxo muito pouco utilizado, e o cheque pré-datado ainda não tinha virado uma prática.
A informática, a internet, os meios de pagamento virtuais, transformaram a indústria varejista para melhor nos servir.
Com relação ao governo, suas práticas só serviram para nos oprimir ainda mais.
Por outro lado, quem é jovem foi poupado e não tem a menor ideia do que é viver com inflação acima de 10% ao mês por uma década ou mais.
Fonte: Instituto Liberal, 27/07/2017.
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