No primeiro semestre, 8.151 empresas fecharam as portas no Estado do Rio, em setores como comércio e indústria. É aumento de 38% na comparação com igual período de 2016 e patamar equivalente ao de todo o ano de 2014, quando 8.296 estabelecimentos encerraram atividades. A mortalidade empresarial acelerou com a recessão do país, mas também com o aprofundamento da crise fiscal fluminense, avaliam especialistas. Entre os nós a serem desatados estão segurança, infraestrutura e tributação.
Neste último ponto, porém, já há avanços, como a prorrogação da Lei da Moda, que garante redução de ICMS ao setor têxtil no estado até 2032.
— Infelizmente, estamos vendo, de novo, um esvaziamento do Rio. Há um descolamento do estado em relação às outras regiões. O pior indicador é o do emprego. O Rio teve o pior desempenho do país. O que move a economia é o salário mensal. Se perde o emprego, a fonte seca — afirma o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.
MAIOR ICMS DO SUDESTE
Apenas no comércio, 22.944 vagas foram fechadas no Estado do Rio até julho, uma queda de 2,79%, enquanto no país o recuo foi de 1,24%, segundo dados do Caged. Na indústria, o Brasil acumula saldo positivo na geração de vagas formais este ano, de 40.498, com alta de 0,56%, enquanto no Rio houve saldo negativo de 8.370, recuo de 2,14%.
Orlando Diniz, presidente da Fecomércio-RJ, destaca que o aumento da violência colabora para esse esvaziamento. E afirma que é preciso investir na melhoria da competitividade e do ambiente de negócios:
— O ICMS do Estado do Rio é o mais alto do Sudeste, mina nossa competitividade regional. Deficiências em infraestrutura, alto custo de telefonia e falta de segurança afetam a decisão das companhias. Com roubo de carga maior, o estado tem um custo adicional de 3% a 5%.
‘Falta capacidade de investir’
O Rio de Janeiro manteve sua posição em ranking de competitividade elaborado pela Consultoria Tendências em 2016, considerando as 27 unidades da federação. A colocação em áreas-chave, porém, afeta negativamente o ambiente de negócios.
— Um conjunto de problemas, como o descontrole fiscal e das contas públicas, a queda da receita da cadeia de óleo e gás e os efeitos da Operação Lava-Jato resultaram na crise fluminense atual. Com um governo endividado e deficitário, falta capacidade para induzir a economia, de investir, fazer compras. A avaliação do Rio em áreas como infraestrutura (23º lugar no ranking), segurança pública (22º) e solidez fiscal (24º) afetam a competitividade — destaca Fábio Klein, economista da Tendências.
Christino Áureo, secretário estadual da Casa Civil e de Desenvolvimento Econômico, reconhece que o momento é adverso, mas diz que o equilíbrio está próximo, e a retomada virá.
— A decisão de suspender uma operação, como a da L’Oréal de fechar uma fábrica no Rio no fim de 2018, é multifacetada. É um setor que teve queda brutal em vendas. Mas é claro que a empresa também fica onde tem maior segurança jurídica. Passamos meses impedidos por uma liminar de tratar de incentivos fiscais no estado, por exemplo. Mas avançamos. E já temos condições de decidir sobre incentivos.
Apesar da perda de unidades de produção de empresas como Bayer e da Coca-Cola Femsa — que fechou a unidade de produção do refrigerante em Porto Real — nos últimos anos, o Rio atraiu projetos como as fábricas de Procter&Gamble, Nissan e Nestlé. Em Duque de Caxias, outra fabricante da Coca-Cola, a Andina, está finalizando uma nova unidade que começa a produzir em dezembro.
O peso do desequilíbrio fiscal para a crise atual no estado, além dos custos resultantes de problemas na segurança pública, como roubo de carga, também são admitidos por Áureo:
— O programa de recuperação fiscal nos dá condições de ampliar a receita, com a redução dos custos. Já a segurança pública está muito relacionada a tráfico de drogas e contrabando de armas, crimes que têm de ser combatidos com ajuda federal, como está sendo feito. Já há resultados.
Para Firjan, Rio tem saída
O secretário afirma que a AgeRio, agência de fomento fluminense, conta com R$ 400 milhões em caixa. E que o estado tem 130 projetos de empresas já captados, que vão se instalar no Rio a partir deste ano, somando R$ 100 milhões em investimento e gerando três mil empregos.
— Há gargalos. Mas temos um grande mercado consumidor, mão de obra qualificada, centros de pesquisa e inovação. O Rio tem saída. Precisamos superar este momento — diz Sérgio Duarte, vice-presidente da Firjan.
Fonte: “O Globo”
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