Em seu discurso de abertura na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira, 24 de setembro, a presidente Dilma Rousseff condenou o programa de espionagem norte-americano com foco no Brasil. A viagem à sede das Nações Unidas, em Nova York, aconteceu após o cancelamento da visita oficial da presidente a Barack Obama, na Casa Branca, em Washington.
Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-1999) e em Washington (1999-2004), afirma que a presidente deu uma reposta à altura da violação da sua privacidade pessoal e do governo, na linha do que fizeram outros chefes de estado, como da Alemanha, França e México.
“O cancelamento da visita de estado a Washington pode ser entendido como uma providência para evitar o risco real de que, enquanto nos EUA, a presidente fosse surpreendida por novas e embaraçosas revelações pela mídia brasileira”, pondera.
Apesar de considerar que Dilma teve uma atitude legítima, Barbosa acredita que o assunto ganhou uma dimensão político-partidária. “Em período eleitoral, dá voto ter atitude antiamericana”, completou.
O diplomata recomenda evitar possíveis radicalismos ideológicos que prejudiquem os projetos globais do Brasil. “Ninguém é ingênuo, e todos sabem que a espionagem não é feita só pelos EUA”, ironiza.
Além de estremecer as relações políticas e diplomáticas com os Estados Unidos, a preocupação é que o caso afete o comércio com aquele país, no curto prazo. Contudo, Barbosa acredita que a tendência é que essa relação se normalize, considerando os grandes interesses do Brasil e dos EUA tanto na área de governo, quanto no setor privado.
Itamaraty em xeque
Além do episódio da espionagem do governo brasileiro pelos Estados Unidos, outros acontecimentos recentes colocaram a política externa brasileira na berlinda. O ápice da crise institucional do Itamaraty foi a articulação da vinda do senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil pelo titular interino da diplomacia brasileira em La Paz, Eduardo Sabóia.
Barbosa alerta para a crescente partidarização das decisões da chancelaria nacional. “No caso do adiamento da visita de estado, pelo que se noticiou, a decisão foi tomada durante reunião do conselho político do PT [Partido dos Trabalhadores] com a presidente, sem a presença do ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo”, ressalta.
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