As notícias sobre a crise financeira grega na imprensa mundial têm, pelo menos, alguma coisa em comum: as fotografias. Sem exceção, as matérias são ornadas com imagens de autoridades circunspectas e preocupadas ou manifestações de rua contrárias a qualquer perda de privilégios.
A Grécia é hoje um retrato cruel daquilo em que se tornou o famigerado estado de bem estar social europeu. Ninguém admite sequer a possibilidade de perder algum “direito adquirido”. Aposentados, pensionistas, funcionários públicos, estudantes, todos estão dispostos a lutar, com unhas e dentes, se necessário, para manter seus privilégios. Pouco importa quem vai pagar a conta, no presente ou no futuro. Acreditam que o Estado é uma fonte inesgotável de recursos, bastando aquilo que os demagogos convencionaram chamar de “vontade política” para que seja feita a “justiça social”.
Chega a ser patético assistir a essas manifestações, não raro impregnadas de rancor e ódio contra os credores que pretendem – oh! Suma ganância ? recuperar sua poupança, antes que ela vire pó. A própria existência da União Européia é hoje vista com desconfiança, principalmente porque a união monetária que oficializou o Euro como moeda única tornou-se um grande entrave para os governos perdulários de muitos países. Se antes as crises financeiras dos governos eram “enfrentadas” com medidas populistas irresponsáveis, como emissão de moeda (leia-se: inflação) e manipulação da taxa de câmbio, hoje isso não é mais possível.
A atual “tragédia grega” é exemplar. Mostra, em cores vivas, o que pode acontecer quando um país inteiro resolve viver acima de suas possibilidades, sem se importar com a conta, achando que terceiros (no caso, principalmente os alemães) estariam obrigados a quitá-la. Qualquer ajuste fiscal proposto é logo repelido pela população, que se recusa a abrir mão do seu conto de fadas socialista.
O primeiro membro dos chamados PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) a sentir os efeitos da crise financeira que abalou o mercado em 2008 e 2009 foi a Irlanda. Mas, talvez por estar menos impregnado da ilusão da vida fácil, o país fez o seu dever de casa direitinho: aprovou um orçamento extremamente rígido para expurgar os contínuos déficits orçamentários, reduziu salários de funcionários públicos, cortou outras despesas correntes, enfim, deu demonstrações inequívocas à comunidade financeira internacional de que realmente pretendia honrar seus compromissos. A resposta foi quase imediata e parece que a dívida soberana da Irlanda encontra-se hoje equacionada.
O mesmo não ocorre com a Grécia ou com Portugal. Seus povos estão embriagados pela fantasia do “almoço grátis” e seus governantes possuídos pelo devaneio de prover a felicidade geral sem custos, ou melhor, às custas dos outros. Não por acaso, esses países aumentaram muito as suas dívidas “soberanas” durante o período do boom econômico da última década.
A Grécia, por exemplo, “pulou” de um déficit orçamentário de 3,6% do PIB (embora esse número seja altamente questionável, já que há fortes suspeitas de que o governo anterior maquiava as estatísticas para adequá-las às regras da UE) em 2006 para 13,6 em 2009. Já a dívida pública saltou de 205 bilhões de Euros para 273 Bilhões no mesmo período.
O problema grego tem solução? Eu diria que sim. Mas a única solução realmente efetiva e de longo prazo é a solução de mercado. Tal como ocorreu no caso irlandês, é preciso que as duas partes, credores e devedor, façam o dever de casa, a fim de resolver um problema que é mútuo. A solução que vem sendo aventada para o problema da Grécia, com forte injeção de recursos do BCE e do FMI é a pior possível. Os gregos continuarão acreditando que podem comer de graça e os credores ficarão mais uma vez sem punição por terem empregado mal o seu capital.
Enquanto isso, os alemães (principalmente) continuarão pagando uma conta que não é sua. Até quando? Isso, só o tempo pode responder.
(*) É assim que o tradutor do Google traduz para o idioma grego a frase: “Não existe almoço grátis”. Se eu pudesse dizer alguma coisa útil àquele povo, isso é o que eu diria.
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