Começou em Atenas. Está se espalhando para Lisboa e Madri. Mas seria um grave erro presumir que essa crise da dívida soberana ficará confinada às economias mais fracas da Zona do Euro.
Estamos diante de mais do que apenas um problema mediterrâneo. Trata-se de uma crise fiscal do Ocidente. Apropriadamente, começou na Grécia, o berço da civilização ocidental”, alerta o professor de história econômica Nial Ferguson, em artigo no jornal “Financial Times” da semana passada.
Para Ferguson, a dimensão financeira está presente em cada um dos fenômenos históricos extraordinários, como registra em “A ascensão do dinheiro: a história financeira do mundo” (2008). Os banqueiros de Florença estavam por trás das magníficas manifestações artísticas do Renascimento.
O mercado de ações permitiu à república holandesa prevalecer sobre o império dos Habsburgo, apesar das minas de prata espanholas. A Revolução Francesa foi a deposição de uma monarquia arruinada em decorrência do caos financeiro.
“Foi Nathan Rotschild, tanto quanto o Duque de Wellington, quem derrotou Napoleão em Waterloo.
E foi também a insensatez financeira que transformou a Argentina, sexto país mais rico do mundo no final do século XIX, em um país falido e devastado no final do século XX”, adverte Ferguson.
Para Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, a crise financeira de 2008 repete um padrão histórico: para salvar os sistemas financeiros, os governos se endividam excessivamente.
O aumento da dívida pública infla o déficit fiscal, eleva as taxas de juros, derruba o crescimento e a arrecadação, um círculo vicioso bastante conhecido no Brasil. A mensagem de Rogoff e Reinhart, em “Desta vez é diferente: oito séculos de insensatez financeira” (2009), é que os países avançados terão crescimento muito baixo por longo tempo, como consequência desse excesso de endividamento do setor público.
A crise fiscal do Ocidente, em meio à guerra mundial por empregos, abala os alicerces do paradigma ocidental: democracias liberais, economias de mercado e políticas públicas do welfare state. De um lado, os excessos dos bancos centrais e dos financistas anglo-saxões abalaram a fé nos mercados. De outro, os excessos da social-democracia europeia abalaram a fé nos governos. E, finalmente, os desacertos nas tentativas de transplante das instituições democráticas no Oriente Médio e na Ásia exacerbam o choque das civilizações, levando ao desalento o comentarista da rede britânica BBC Humphrey Hawksley, em uma entrevista para Adriana Carranca, no jornal “O Estado de S. Paulo” deste domingo: “A democracia está em decadência. Vive seu momento mais crítico desde a Guerra Fria. Não adianta falar em direitos humanos e liberdade. Com sua realpolitik, os chineses estão no topo do mundo.”
No Comment! Be the first one.