“Quem poupa o lobo, mata a ovelha.” (Victor Hugo)
A soltura do assassino de João Hélio, o garoto que foi arrastado por vários metros preso ao cinto do carro, desperta revolta em qualquer um que ainda nutre simpatia pelo bom senso. Infelizmente, o bom senso é matéria-prima cada vez mais escassa neste país. Após anos de lavagem cerebral dos sociólogos de esquerda, muitos passaram a acreditar que os criminosos são apenas “vítimas da sociedade”, e que todos podem ser “reabilitados” após um período sócio-educativo. É a visão do “coitadismo” que predomina no país. Balela!
O que está em jogo é um conflito de visões sobre a natureza humana. Para alguns mais românticos, todo ser humano é um anjo em potencial. Filhotes de Rousseau, essas pessoas acham que nascemos puros, e somos corrompidos pela sociedade – como se esta não fosse justamente resultado do que somos. Eles acham que todos merecem uma nova chance – à exceção das suas vítimas fatais, naturalmente. Acham que basta dar carinho e amor, passar a mão na cabeça dos assassinos, que logo eles serão bons samaritanos. Acreditam na elasticidade total da natureza humana. Somos páginas em branco aguardando lindas mensagens que serão escritas pelos “engenheiros sociais”.
A partir desta premissa, claramente utópica, essas pessoas costumam defender uma postura bem mais branda com assassinos, principalmente se forem novos. Marmanjos com quase 18 anos, que já podem votar desde os 16, passam a ser tratados como crianças indefesas e inimputáveis quando praticam os crimes mais horrendos. Na época das eleições, voltam a ser adultos responsáveis, capazes de escolher o próximo governante – é mais fácil conquistar pelas emoções os eleitores jovens. Trata-se de uma clara contradição.
Fruto desta mentalidade nasceu o Estatuto da Criança e do Adolescente, repleto de boas intenções. Mas, como os mais realistas sabem, o inferno está cheio de boas intenções. Como constatou Roberto Campos, “com a nossa capacidade de fazer maluquices em nome de boas intenções, criamos uma legislação de menores que é um tremendo estímulo à perversão e ao crime, ao fazê-los inimputáveis até os 18 anos”. A crença ingênua de que esses assassinos frios serão reeducados pelo Estado, e passarão a brincar de Lego após um período na Febém, pariu uma legislação monstruosa, que estimula o crime e desrespeita as vítimas inocentes.
Outra visão de mundo encara o ser humano como um bárbaro em potencial, que precisa ser civilizado. Cada nova geração chega necessitando de freios aos “instintos” mais básicos. O “bom selvagem” de Rousseau nunca existiu de fato. A vida tribal era repleta de guerras, domínio pelo mais forte, disputas sangrentas. Para evitar isso, o papel das instituições, do mecanismo de incentivos, faz-se crucial. Tais pessoas acreditam mais no processo que na capacidade de se criar o “homem novo”. Logo, defendem “trade-offs”, não soluções mágicas. Reconhecem que o império das leis impessoais poderá gerar casos isolados que parecem injustos, mas entendem que esse é o custo a se pagar para preservar a liberdade e a ordem. A punição é vista como principal incentivo contra o crime.
É neste contexto que o ato de colocar em liberdade, e ainda mandar para o exterior o assassino de João Hélio, desperta revolta. A punição legal deve ser condizente com o crime, caso contrário a sensação de revolta será grande, estimulando o desejo por vingança pessoal. Quando o crime compensa, a civilização sai perdendo. No limite, o resultado pode ser a vitória da barbárie. Mesmo que este não seja o resultado intencional dos adeptos da visão romântica da natureza humana, é o resultado que eles acabam ajudando a criar.
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