Este artigo focar-se-á, complementando o anterior, nos investimentos das empresas brasileiras em Portugal. Afim de posicionarmos ainda mais dimensão que as relações econômicas bilaterais alcançaram, constata-se que o comérco bilateral (importações + exportações) aumentaram de 292,78 milhões de euros, em 1989, para 1.707,77 milhões de euros em 2008, seis vezes mais! E, ainda, o investimento bilateral, cresceu de 67, 26 milhões de euros para 1.765,50 milhões de euros brutos, no mesmo período, mais de 26 vezes!
Os investimentos brasileiros em Portugal remontam à década de 60, com empresas do setor imobiliário e de construção civil, bem como de capital público, como o Banco do Brasil. Por exemplo, o primeiro hipermercado de Portugal foi empreendimento de um grupo brasileiro, o Pão de Açúcar, no início dos anos 1970. O Gráfico 1 apresenta a evolução dos investimentos brasileiros tal como foram registrados pelo Banco de Portugal entre 1986 e 2009. Ao analisar estes dados precisamos ter cuidado, pois, além da dificuldade de coleta de tais dados, sabemos a influência que podem ter os investimentos nos chamados paraísos fiscais, aliás tanto para o investimento brasileiro quanto para o português no exterior, sendo que estes investimentos podem ter como destino final outros países, no caso brasileiro, para Portugal, por exemplo. Por este gráfico, percebe-se o investimento ainda incipiente em relação à atualidade, entretanto já com empresas importantes, como a H. Stern, entre as cinco maiores joalherias do mundo, a qual foi a primeira empresa brasileira a instalar-se em Portugal de acordo com o banco de dados disponível.
Como cenário de fundo tivemos o processo acelerado de liberalização e abertura das economias (no caso português, o aprofundamento da União Europeia através da união econômica e monetária, e brasileiro com o Mercosul e as reformas nomeadamente introduzidas no final dos anos oitenta e aprofundadas no Plano Real) e de facilidade de comunicação proporcionado pelas novas tecnologias de informação. A implementação do Plano Real (1994), em particular o seu combate efetivo à inflação, conjugado com medidas de liberalização comercial e de ataque ao déficit público, começou a criar um ambiente favorável para a manutenção e conquistas de novos mercados. Com a estabilidade de preços, já não era mais tão lucrativo investir no mercado financeiro, o que aumentou a taxa de retorno para os investimentos produtivos e fez com que as empresas se reestruturassem com vistas a expansão das suas atividades e manter a sua competitividade.
Ainda de acordo com o gráfico, constata-se que o investimento das empresas brasileiras em Portugal foram de 1,6 milhões de euros em 1986 e, em 2009, 219 milhões de euros, pelas estatísticas brasileiras. Os investimentos brasileiros em Portugal estão crescendo e em 2009 foram quase cinco vezes maiores que em 2008. De acordo com os dados mais recentes do Banco Central do Brasil (BC), somaram US$ 310 milhões em 2009, contra apenas US$ 65 milhões no ano anterior. Com esta evolução, Portugal foi sétimo maior destino dos capitais brasileiros em todo o mundo, representando 4% do investimento do Brasil. O reforço do investimento brasileiro em Portugal aconteceu num ano em que os investimentos diretos do Brasil no exterior caíram para menos de metade, passando de US$ 17,3 bilhões em 2008 para US$ 7,8 bilhões em 2009, segundo as estatísticas do BC, podendo indicar o investimento em mercados com maior afinidade em momentos de crise.
Neste contexto, o estudo, de foma profunda e analítica, tornou-se fundamental por motivos como:
– Número de empresas brasileiras instaladas naquele país, a segunda preferida em termos de localização geográfica;
– A posição do Brasil entre os 10 maiores investidores estrangeiros em Portugal, a frente de vários países tradicionalmente investidores no exterior;
– Instalaram-se em Portugal empresas reconhecidas internacionalmente, de todos os portes e em diversos setores da economia, e portanto, agregando valor à economia portuguesa.
– A multiplicidade de atores (empresas privadas, públicas, pequenas, médias e grandes) e interligações;
Assim, está em aberto um estudo mais amplo, devido a escassez de estudos científicos sobre o tema, considerando a importância cada vez maior dos investimentos entre Portugal e Brasil.
O estudo justifica-se, ainda, pelo seguintes motivos:
Em termos acadêmicos, para além de se apresentar uma perspectiva diferente sobre um assunto atual, poderá servir como base de dados para outras investigações sobre o tema, através da melhor comprensão deste fenômeno que é a emergência do Brasil como investidor internacional e o reforço das relações com Portugal no conjunto geral. A existência de escassos estudos científicos sobre o tema também é uma justificativa relevante, dado a importância cada vez maior dos investimentos entre Portugal e Brasil.
Do lado empresarial, contribuirá para que as firmas conheçam melhor o ambiente externo em que estão a competir ou competirão, servindo assim como uma ferramenta para as empresas brasileiras que já investem ou que tenham planos de investir não só em Portugal mas também nos outros países da União Europeia, com Portugal como eixo principal.
Poderá contribuir também para o crescimento econômico tanto do país investidor quanto do país hóspede, na medida em que este tipo de estudo contribuirá para a compreensão do comércio, investimento e integração entre os dois países, vindo a auxiliar na definição de políticas que otimizem os benefícios destes processos, inclusive ao nível científico e tecnológico. Poderá servir de apoio para o aperfeiçoamento da política de internacionalização da economia brasileira e de atração do IDE pela economia portuguesa, através da identificação dos fatores que impulsionaram o investimento brasileiro para Portugal, tanto os intrínsecos à empresa quando os relacionados com a capacidade de atração de IDE da economia portuguesa, como também os fatores a melhorar neste mercado. Ainda a percepção da contribuição da afinidade cultural como dinamizadora dos fluxos de investimentos, é um ponto importante de análise do IDE, assim como já fazem, por exemplo, os ingleses, asiáticos, espanhóis e franceses dentro dos seus respectivos espaços linguísticos.
(Continua)
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