Joesley é um tipo de empresário brasileiro que acumula os defeitos do capitalismo e do socialismo, em causa própria
De perto ninguém é normal, cantou Caetano Veloso. Grampeado, então, nem se fale. Mas Joesley, Aécio, Temer, Zezé Perrella e Ricardo Saud superaram as expectativas mais pessimistas, pela linguagem que os nivela a chefões do tráfico. A arrogância, a pobreza de vocabulário, os palavrões e intimidações, as ameaças e chantagens misturadas às noções de lealdade que remetem à omertà dos mafiosos, é essa gente, que fala essa língua, que manda no Brasil. Por enquanto.
Imaginem as ideias diabólicas, as propostas indecentes, as bravatas e conspirações entre eles, quando os gravadores estão desligados. É melhor não imaginar nada, a realidade já é suficientemente abjeta e revoltante. Foram os políticos e funcionários que comeram na mão de Joesley que facilitaram seu acesso ao dinheiro “barato” do BNDES. Barato para ele, mas caro para o Tesouro Nacional, que pagava juros mais altos do que os que cobrava de Joesley. Com a mamata ameaçada, ele queria tirar Maria Silvia do BNDES. Mas não estava sozinho, é o “Joesley de todos os Joesleys”, um tipo de empresário brasileiro que acumula os defeitos do capitalismo e do socialismo, em causa própria.
Caricatura grotesca de gângster sertanejo e maior matador de animais do mundo, Joesley simboliza o Brasil de hoje. Ao seu lado, até Marcelo Odebrecht fica menos arrogante, e papai Emílio vira um tiozão boa-praça como os chefões mafiosos sentimentais. Do “fora Dilma” ao “fora Temer” ao “fora todos”, cresceram as legiões de políticos ameaçados pela Lava-Jato, dispostos a tudo para livrar a pele, até mesmo se unir a seus piores inimigos. São eles contra nós, numa guerra mortal que pode arrasar o Brasil, para que esses bandidos travestidos de políticos sobrevivam.
Quando você ouve Joesley exigindo de Temer mudanças no BNDES, no Cade, na Receita Federal e na CVM, nos termos e tons que usa, não precisa ouvir mais nada.
O irônico é que o erro fatal de subsidiar “campeões nacionais”, que vitimou a “direita nacionalista” do governo Geisel, foi repetido pela “esquerda desenvolvimentista” de Lula e Dilma. Só mudaram os nomes nomes dos Joesleys.
Fonte: “O Globo”, 02/06/2017
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