A eleição brasileira de 2018 se desenrola em um dos cenários econômicos mais complexos da história. É evidente que o modelo de Estado brasileiro consolidado a partir da Constituição de 1988 ruiu, é inviável e não responde mais às demandas do país e da população. Também é relativo consenso de que estamos iniciando um ciclo de retomada econômica e reformas institucionais que, se forem razoavelmente implementadas e lideradas no próximo mandato presidencial, trarão um tempo de maior estabilidade e um cenário para poder aprofundar modernizações no país com a credibilidade de um novo presidente eleito.
Nesse cenário, seria de se imaginar que os candidatos que apresentassem a perspectiva de uma agenda reformista do Estado, de recuperação da credibilidade do país com equilíbrio pudessem ser os mais cotados. Mas essa fase, se vier a existir, ainda está relativamente distante; estamos ainda envoltos em cortina de fumaça, em um debate que ainda não formou consenso de direção.
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Ainda estamos na fase pré-eleitoral, em que os candidatos mais destacados em pesquisas de opinião são aqueles que posam como extremos e se esmeram em “jogar para a torcida”, com propostas simplórias que sabem ser (espera-se que saibam) inexequíveis em um regime democrático e em uma economia globalizada de mercado. Praticam uma retórica em que os dois extremos se realimentam, em que um se apresenta como “antídoto” do outro, levando o debate pré-eleitoral a níveis por vezes surreais. Existe um “risco-país” constantemente alimentado através da máscara dos candidatos dos extremos, pois estes sabem que, ao abandonar a retórica exagerada, podem perder o seu destaque e evidenciar o seu vazio. Testam a máscara ao máximo, pois esta funcionou parcialmente com Trump e na decisão do Brexit, por exemplo. E pode vir a funcionar em um país com histórico razoável de populismo.
Que a tênue retomada econômica não seja em vão. Que a máscara dos extremos se desvaneça o quanto antes para que tenhamos um debate eleitoral em cima de projetos e visões viáveis de país, em um ambiente de menor risco político e possibilidade de construção de consenso, ou convergência. Em um país vindo de uma recessão e um processo de degradação institucional, o show da máscara dos extremos pode até ser sintomático, mas já se provou distante de uma solução efetiva. Que se possa, o quanto antes, entrar no debate e na configuração de projetos que reflitam uma agenda próxima àquela de que o país realmente precisa, e para que se possa avaliar as condições de liderança dos candidatos que se apresentarem – com projetos e posicionamentos mais próximos da melhor realidade possível.
Essa será a eleição, em dois turnos, que resultará na vitória da candidatura que mostrar o melhor Brasil possível. Até lá, deveremos viver muitas incertezas e projeções de risco, pelo menos enquanto os extremos continuarem a se mostrar vigorosos.
Fonte: “Gazeta do Povo”, 18/12/2017
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