O Uber é um agente de mudanças ímpar. Ele não expõe apenas a falta de qualidade dos serviços de transporte tradicionais, como o táxi. Ele escancara a mentalidade retrógrada, conservadora, reacionária e corporativa de segmentos da sociedade que, aliados e protegidos pelos governos, teimam em reclamar privilégios estabelecidos através da coerção, tolhendo a liberdade dos indivíduos. Eis aqui, alguns pontos que entendo devemos refletir sobre eles:
1 – Escolha
Enviei um artigo para a Zero Hora de Porto Alegre sobre a chegada do Uber criticando as ameaças de proibição feitas pelo governo. Não disse que o Uber é melhor, que seus carros são superiores, mais limpos, mais modernos, mais confortáveis, mais atraentes. Nem disse que os motoristas são mais educados, mais amigáveis, melhor arrumados, dirigem com maior civilidade. Não disse que não há música em alto-volume, nem programas esportivos ou religiosos inconvenientes. Não disse que para ligarem o ar condicionado não é preciso implorar. Não disse nada disso, porque há quem goste e quem não goste disso tudo. Aí é que está o ponto. Goste ou não goste, o importante é todos termos liberdade para escolher.
2 – Justiça
Como não esperar que taxistas tomem a iniciativa de agir violentamente contra motorista e passageiro do Uber, impedindo-os de exercerem seus direitos à liberdade e à propriedade? Eles estão acostumados a fazê-lo através de um sistema cartorial que usa do mesmo recurso coercitivo tão imoral quanto suas ações isoladas. Como não achar que o estado violento deve ser combatido, se no seu esforço intervencionista, nos impõe, suprimindo nosso direito de escolha e impede que usufruamos da justiça, transacionar com gente abominável o suficiente para praticar a violência com suas próprias mãos? Rejeitar governos e indivíduos, associados ou não, que praticam a coerção infundada, não apenas é um direito, mas um dever. É o exercício legítimo do direito à vida, à liberdade, à propriedade e à busca da liberdade que cada um de nós possui.
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3 – Falácias
Os ideólogos intervencionistas sempre recorrem à falácia da imperfeição do mercado para justificar a ação do governo, seja para fornecer serviços que os particulares não estariam interessados em fazê-lo, ou para equiparar o poder entre quem compra e quem vende. O caso do Uber é icônico porque expõe duas falácias de uma só vez. A primeira é a que diz que o mercado é imperfeito. A segunda é a que diz que os governantes querem ajudar o mercado a funcionar melhor. O Uber tem sido tão combatido pelos políticos e corporativistas porque ele destrói duas das mais batidas e falaciosas de suas argumentações para usar a coerção contra a livre iniciativa.
4 – Certeza
Não se enganem. A batalha do governo contra o Uber não visa o atraso tecnológico. Não é contra a inovação. Se assim fosse, apps como o Easy Taxi ou o 99 Taxis seriam proibidos também. Não pensem que é a reprise dos conflitos entre os computadores e as máquinas de escrever, entre os carros e as carroças, entre a luz elétrica e as velas. Não é essa a batalha que estamos assistindo e do qual fazemos parte. A guerra não é entre o estado e o Uber. A guerra é entre o estado e cada um de nós. A grande batalha que está por trás disso tudo é entre os que possuem direitos e os que querem privilégios, entre os que produzem sem violar os direitos de ninguém, e os que parasitam violando os direitos dos outros.
A grande guerra que estamos travando, como sempre, é a mesma que vem sendo travada desde os primórdios da humanidade, o confronto entre a coerção e a liberdade.
Fonte: “Instituto Liberal”, 27/02/2018