“Vocês já devem ter ouvido que estamos vivendo uma revolução”, foi assim que Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, iniciou sua palestra na Feira Internacional de Máquinas e Equipamentos (Feimec), que ocorre em São Paulo até 28 de abril, reunindo mais de 900 marcas expositoras.
Pacheco se refere à transformação promovida pela chamada indústria 4.0, que impactará não apenas os meios de produção industrial, mas a competitividade das empresas, a interação humano-máquina e questões econômicas e sociais. A indústria 4.0 foi o tema central da feira organizada pela Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entre outras 30 entidades setoriais.
A transformação é tamanha e atinge tantos setores que está sendo chamada de quarta revolução industrial. Segundo especialistas presentes em debate sobre o tema na Feimec, para que não se perca em competitividade, há uma necessidade urgente em avançar nos processos de digitalização na indústria e de toda a sua cadeia de valor.
“O conceito de indústria 4.0 surgiu na Alemanha há quatro anos para manter o país entre os líderes mundiais. Não há ruptura, o que há é continuidade. Tudo o que se fez na indústria, vai continuar sendo feito, só que com mais eficiência”, disse Marcelo Zuffo, professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), que falou na Feimec sobre desafios e oportunidades para o Brasil com a indústria 4.0 e a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês).
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O Brasil tem apresentado alguns planos para inserir a indústria 4.0 no centro de suas estratégias de política industrial e aumentar a competitividade.
“Cada país tem desenhado sua estratégia conforme suas necessidades. No Brasil, temos que olhar para a heterogeneidade da indústria. Temos fábricas ainda na primeira fase industrial e uma nata de empresas que estão na fronteira do processo de automação e de produção”, disse Pacheco.
Nesse contexto, há um conjunto de indústrias no Brasil que precisa ter acesso às principais tecnologias facilitadoras da indústria 4.0, como internet das coisas, big data, robótica avançada, realidade virtual e inteligência artificial. “No entanto, apesar de haver um esforço de difusão da tecnologia, é preciso também estar atento à capacitação tecnológica para essas novas fronteiras”, disse Pacheco.
O diretor-presidente da FAPESP ressaltou que, com a necessidade de transição para a indústria 4.0, um programa de manufatura avançada deve trabalhar a produtividade da indústria como um todo.
“Na FAPESP, financiamos pesquisas científicas. Como podemos contribuir para esse processo de transformação? Vimos que nosso programa de financiamento de startups e empresas inovativas gera um benefício extraordinário e as prepara para a manufatura avançada. Sem dúvida, uma forma de melhorar a indústria brasileira está em financiar essas pequenas empresas”, disse.
O Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), criado em 1997, tem quatro chamadas ao ano e em 2017 aprovou 237 novas propostas submetidas por startups, pequenas e médias empresas, em um valor total contratado de R$ 79,8 milhões.
Salto quântico
As oportunidades e os ganhos em competitividade são grandes. Tanto que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) acaba de lançar um novo programa de R$ 5 bilhões para incentivar a indústria 4.0, junto ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
A Agenda Brasileira para a Indústria 4.0, do MDIC, prevê ainda destinar recursos para o treinamento em indústria 4.0 de 1,5 mil professores de educação profissional e tecnológica e 10 mil alunos da rede federal. Os recursos serão aplicados, ainda, na criação de até 100 laboratórios voltados à Quarta Revolução Industrial.
A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), também participou da Feimec, apresentando seu modelo de financiamento para projetos de pesquisa e desenvolvimento.
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Há ainda o Plano Nacional de Internet das Coisas do MCTIC, ainda não lançado. De acordo com o plano de ação, internet das coisas é uma oportunidade única para o crescimento econômico.
“Até 2025, a internet das coisas terá um impacto econômico maior do que robótica avançada, tecnologias cloud e até mesmo do que a internet móvel. O impacto esperado no Brasil é de US$ 50 a 200 bilhões por ano, o que representa cerca de 10% do PIB do nosso país”, destaca o relatório do plano de ação.
Zuffo defende que com esse avanço, se tudo for implementado, a economia “dará um salto quântico”. “Desde 2012, há no mundo um computador por ser humano, como o celular, por exemplo, que tem uma ótima interação humano-máquina. Porém, já saímos dessa proporção e o nosso desafio é saber que teremos milhares de computadores por pessoa na próxima década. Eles estarão cada vez menores, mais baratos e integrados a todas as coisas. A estimativa é que uma pessoa tenha em média 10 mil coisas. Umas mais, outras menos. Será uma avalanche”, disse.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”