O jogo eleitoral está posto; os candidatos e o potencial vencedor do pleito já estão apresentados. Como soa acontecer, o resultado das urnas agradará alguns e desagradará outros. Os vencedores irão para o poder e os vencidos, para a oposição. Sim, teoricamente, é fácil imaginar as variáveis do futuro; o difícil é ir para a linha de frente, assumir a responsabilidade de mudar o Brasil e impactar positivamente a realidade nacional. Por assim ser, muitos preferem ficar em uma posição neutra, mas neutralidade – em momentos de urgência política – não passa de conivência com os canalhas de sempre.
Olhando o horizonte, é possível antever que o futuro governo terá enorme dificuldades. O corrente processo eleitoral tende a agravar certas divisões da sociedade brasileira, indicando que o presidente eleito, sem uma habilidade política invulgar, será impotente frente aos desafios que se avizinham. Governar o Brasil não é fácil. Somos um país continental com agudas diferenças regionais. Todavia, é justamente esta diversidade formativa a principal fonte de nossa riqueza cultural. Logo, será preciso unir os pontos e propor uma estabilidade mínima.
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O problema é que a engrenagem política brasileira está liquefeita e com focos de ebulição. Objetivamente, o sistema de poder tradicional acabou. As estruturas que coordenaram a redemocratização de 1988 estão ruindo pela estafa dos materiais. Temos uma classe política analógica em um mundo de velocidade digital. A dicotomia entre a realidade que é e o poder que está impossibilita o desenvolvimento do Brasil. As vertentes são incomunicáveis. E, no vácuo de lideranças capazes, estamos a viver crises após crises.
O processo de choque e entrechoques da política fará surgir um novo arranjo de forças, legitimando uma governabilidade que se mostrará duradoura ou absolutamente precária. O que determinará a coesão do futuro pacto de poder será a clareza das regras, a fidelidade dos players e o firme compromisso de impor uma virtuosa institucionalidade política. Além disso, o futuro governo terá que criar uma nova dinâmica de comunicação social, atraindo o engajamento participativo da população sobre o Congresso Nacional para viabilizar a votação das pautas reformistas necessárias ao progresso nacional.
Ora, é lição antiga que ninguém governa só. Portanto, saber compor é fundamental. Se eleições exigem apelo emocional, o exercício do poder impõe calculada racionalidade. Aqui, os amadores caem, os profissionais são corrompidos e os democratas autênticos triunfam. No próximo governo, teremos gente de todos os tipos. Não espere milagres nem tenha ilusões. Política é realidade, pois, no espetáculo da vida, a democracia se faz vivendo.
Fonte: “Zero Hora”, 27/09/2018
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