Há muitas explicações para a subida de Bolsonaro nas pesquisas de opinião, reafirmada ontem pelo Ibope, e são tão variadas que o PT não sabe para onde atirar. O fogo amigo certamente é um deles. O ex-ministro José Dirceu assustou muita gente anunciando que o PT não apenas ganharia a eleição, mas tomaria o poder.
Outro ex-ministro poderoso, Antonio Palocci, teve sua delação premiada divulgada, incriminando diretamente os ex-presidentes Lula e Dilma nas falcatruas em que o partido se meteu nos quase 13 anos em que esteve no poder.
A confirmação de que Lula era quem organizava a quadrilha, com a participação direta de Dilma, que seria beneficiada pelo financiamento ilegal das campanhas de 2010 e 2014, reforça a imagem de um partido mergulhado na corrupção e aumenta a rejeição de seu principal líder, encarcerado em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro.
Leia mais de Merval Pereira
Excesso de provas
Tentativa frustrada
Voto de protesto pode afetar resultado
A passeata #Elenão acabou se transformando em uma manifestação política de esquerdistas, e não uma crítica suprapartidária ao candidato Bolsonaro. Tanto que a aprovação dele cresceu entre as mulheres, e nas redes sociais, está explorando situações que aconteceram nas passeatas, como protestos de topless, para criticar as “mulheres esquerdistas” e exaltar as “de direita”, que seriam mais educadas e respeitadoras.
Como o candidato oficial do PT, Fernando Haddad, não existe por si só, e ele mesmo faz questão de demonstrar que quem manda é Lula ao consultá-lo pessoalmente toda semana, não tem culpa nem pela subida vertiginosa nas pesquisas, nem pelo aumento da rejeição, que o está fazendo empacar neste momento por volta dos 20%.
Tanto os votos quanto a rejeição em alta são transferências de Lula, que dá com uma mão e toma com a outra, levando o candidato do PT a estacionar na média histórica que o partido sempre teve quando perdeu as quatro eleições presidenciais.
O marco de 25% a 30%, insuficiente para vencer, só ampliado quando Lula foi para o centro, abandonando os radicalismos das propostas partidárias.
Essas disputas internas no PT sempre existiram, mas eram abafadas pela popularidade de Lula, que controla o partido e dita as linhas mestras das campanhas. Hoje, mais uma vez as diversas correntes estão em confronto, uns querendo que Haddad radicalize as críticas a Bolsonaro, outros considerando que só com a carta do “paz e amor” ele será capaz de ampliar seu eleitorado, sem o que não vence a eleição presidencial.
À medida que vai sendo revelada a fragilidade da estratégia traçada pelo ex-presidente, e a transferência de votos esbarra na transferência da rejeição, alguns líderes sentem-se em condição de confrontar as orientações de Lula, ou, dizendo obedecê-las, criam situações de constrangimento para o candidato Fernando Haddad.
A presidente do partido, Gleisi Hoffman, diz que fazer acordos para o segundo turno, e amenizar o tom na campanha seria trair o ex-presidente. A cada pesquisa que indica a dianteira de Bolsonaro, o PT se desentende internamente, e dá margem a que os adversários cresçam.
Fatos e versões
Escrevi outro dia que a delação premiada de Palocci foi divulgada “alegadamente para atender a um pedido da defesa de Lula”. O advogado Cristiano Zanin enviou uma mensagem pedindo retificação, pois, segundo ele, “a delação de Palocci foi anexada ao processo e teve o sigilo levantado por iniciativa exclusiva do juiz Sergio Moro, e não para atender a qualquer pedido da defesa do ex-Presidente Lula”.
Escrevi “alegadamente” porque o juiz Sérgio Moro aproveitou um pedido da defesa de Lula para sobrestar a tramitação de tal delação premiada durante a campanha eleitoral, e abriu o sigilo, alegando que a defesa deveria tomar conhecimento das acusações. O juiz Moro não atendeu ao pedido, mas disse em sua decisão que considera “necessário, portanto, instruir esta ação penal com elementos da colaboração, especificamente com cópia do acordo, da decisão de homologação e do depoimento pertinente a estes autos”.
“Dos depoimentos prestados por Antônio Palocci Filho no acordo, o termo de colaboração nº 1 diz respeito ao conteúdo do presente feito. Examinando o seu conteúdo, não vislumbro riscos às investigações em outorgar-lhe publicidade. Havendo ademais ação penal em andamento, a publicidade se impõe pelo menos no que se refere a depoimento que diz respeito ao presente caso”.
Fontes: “O Globo”, 04/10/2018