A Petrobras enfrentou a maior crise da sua história nos últimos anos, resultado da política intervencionista e da corrupção nos governos do PT. A política de preços populista para os combustíveis causou prejuízos de US$ 40 bilhões. A estratégia, em particular no primeiro governo Dilma, levou a empresa ao caos.
A partir da gestão de Pedro Parente, a empresa começou a ser reconstruída. A política de preços baseada na paridade internacional e nas variações do câmbio trouxe competição nos segmentos de importação, distribuição e revenda. Foi implantada também uma política de desinvestimento em ativos com menor retorno para aumentar o foco na exploração e produção de petróleo no pré-sal. A reestruturação financeira também foi importante, com redução de custos de US$ 3,4 bilhões para US$ 1,3 bilhão.
Como resultado, a companhia reduziu a dívida líquida de US$ 106 bilhões para US$ 69 bilhões. Outra consequência importante foi o reestabelecimento da imagem internacional, principalmente após acordo para encerrar a ação coletiva contra a Petrobras nos EUA este ano. Houve uma recuperação do valor de mercado da companhia, que atingiu a mínima de R$ 67,8 bilhões em 2016 e já aumentou mais de 400%, passando dos R$ 350 bi.
Leia mais de Adriano Pires
A síndrome do lucro
O passado é incerto
Robin Hood às avessas
Mas a recuperação está longe de terminar. Em comparação às principais empresas do mercado global, a Petrobras segue sendo menos eficiente e produtiva. Para aproveitar oportunidades de exploração de novas reservas, principalmente no pré-sal, será preciso manter uma disciplina de capital. A empresa deveria concentrar sua atuação na produção e exploração do pré-sal, modelo parecido com o da Codelco na produção de cobre no Chile.
Com a venda de ativos — como refinarias, Unidades de Processamento de Gás Natural, dutos de escoamento e a BR Distribuidora —, a empresa poderia se limitar a pagar por esses serviços, sem alocar capital em atividades que hoje têm baixo retorno. Com isso, poderá focar seus investimentos na exploração e produção de óleo e gás no pré-sal, atividade de maior taxa de retorno. Essa estratégia é importante para proteger a empresa contra instabilidades políticas e sociais, evitando que medidas equivocadas e populistas, como a subvenção ao diesel, tenham impacto no seu resultado.
O novo governo não pode nem deve repetir práticas que, comprovadamente, só trouxeram prejuízos: investimentos com o objetivo único de alavancar candidaturas de partidos da base; falhas de governança corporativa que proporcionaram o escândalo de corrupção; e uso da empresa como projeto político para controle da inflação, populismo nos preços e conteúdo local para beneficiar os amigos do rei.
O caminho é aprofundar o plano de desinvestimentos, aumentando o foco da empresa no upstream, em particular no pré-sal, onde há as maiores margens de lucro. Também não se pode abrir mão da alocação criteriosa do capital, assegurando o controle dos gastos e a potencialização das receitas para melhorar os indicadores financeiros. Por fim, deve ser garantida a liberdade na política de preços dos combustíveis, com paridade internacional e regulação apropriada pela ANP e pelo Cade.
Fonte: “O Globo”, 04/11/2018