Em meio à disputa acirrada entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, bolsas de valores nos Estados Unidos registraram seu maior salto pós-eleição em décadas. Em outras regiões do mundo, os mercados também estão em alta.
Ainda à espera do resultado final sobre quem vai chefiar a maior economia do mundo, por que estamos vendo pregões mais fortes?
Em poucas palavras: porque o mercado acredita que o futuro presidente não terá margem para promover mudanças significativas nas políticas públicas que afetam grandes empresas. Isso, segundo os analistas, traria menos incerteza para os negócios.
Na quarta-feira (04/11), dia seguinte ao dia das eleições dos EUA, as ações subiram à medida que os investidores apostavam que os resultados mais apertados do que o projetado dias atrás reduzem a chance de o novo presidente conseguir implementar mudanças capazes de afetar as empresas de forma significativa.
Sócio-fundador da consultoria financeira EM Funding, em Londres, Wilber Colmerauer, diz que há uma certa sensação de “alívio” no mercado.
Ele alerta que é preciso cuidado na análise de muito curto prazo, mas compara as projeções de dias atrás (de que Biden ganharia com folga) com a realidade, ainda no meio da apuração, de que Biden segue favorito, mas com uma diferença apertada nos votos:
“Projetava-se que Biden ia ganhar, teria a tal da onda azul, ele ia poder de fazer o que bem entendesse. E havia certo medo no mercado de que um governante novo, democrata, que tinha feito alguns acordos com área mais à esquerda do partido poderia estar mais tentado a sair colocando impostos, fazendo uma agenda que fosse só dele”, diz.
“E o que estamos vendo é uma eleição mais apertada. Ninguém vai ter carta branca para sair fazendo o que quiser. E, no meio de uma crise econômica e de uma pandemia, é importante que decisões sejam contestadas. Não se quer ninguém com carta branca pra fazer o que acha melhor.”
Sem mudanças radicais
Entre as propostas de Biden que o mercado financeiro considera negativas, está o aumento de impostos para empresas. Um governo sem maioria folgada reduziria as chances de essas propostas serem aprovadas e realmente entrarem em vigor.
O motivo para essa expectativa de uma espécie de redução no poder do futuro presidente está no resultado também apertado da eleição para o Legislativo — mais especificamente no Senado, hoje controlado pelos republicanos.
Até a manhã desta quinta-feira (05/11), democratas e republicanos estavam empatados, com 48 senadores eleitos de cada lado.
Economista-chefe da FHN Financial, Chris Low diz que deve ser um governo dividido, independentemente de quem assumir a Casa Branca. “Isso significa muito menos probabilidade de radicais mudanças legislativas, grandes gastos ou programas fiscais e, portanto, muito menos incerteza.”
Na quarta-feira, o índice Dow Jones subiu mais de 1,3%, enquanto o S&P 500 aumentou 2,2% e o Nasdaq subiu quase 3,9%. Essas altas ocorrem, no entanto, depois de fortes quedas na semana anterior.
No S&P 500 e Dow, os ganhos foram os maiores em um único dia após uma eleição presidencial em pelo menos quatro décadas.
As empresas de tecnologia e saúde, agora vistas como menos propensas a enfrentar novas regulamentações, lideraram os ganhos. As ações do Facebook subiram mais de 8%, enquanto várias grandes seguradoras de saúde tiveram saltos de dois dígitos.
Os índices na Europa também fecharam em alta, voltando depois de uma queda acentuada após o discurso prematuro da vitória do presidente Trump. A maioria dos mercados asiáticos também subiu.
No Brasil, o Ibovespa também fechou em alta na quarta-feira e abriu em alta nesta quinta-feira.
Fonte: “G1″, 05/11/2020
Foto: Reprodução/Reuters