*Por Marcelo Souza
Desde 2010, com a lei n° 12.305/10, conhecida como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a logística reversa vem ganhando mais notoriedade e espaço nos mais diversos meios de comunicação, escolas, empresas, entre outros. A Lei organiza a forma como o país irá lidar com o resíduo sólido que vem crescendo de forma considerável a cada ano, estimulando os setores públicos e privados de maneira compartilhada a não gerar, reduzir, reutilizaar, reciclar e tratar dos resíduos sólidos, bem como a disposição final ambientalmente adequada. A PNRS contempla o descarte correto de agrotóxicos e suas embalagens, pilhas e baterias, pneus, óleo lubrificante e suas embalagens, lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio, mercúrio e mistas, produtos eletroeletrônicos e seus componentes, embalagens plásticas, metálicas ou vidro e medicamentos. Para cada item citado há um instrumento que apresenta diretrizes, como por exemplo as metas que os atores da cadeia precisam cumprir.
Em fevereiro de 2020 foi a vez do lixo eletrônico, que encontra no decreto 10.240/2020 as metas a serem praticadas nos próximos 5 anos: 1, 3, 6, 12 e 17% em volume do lixo eletrônico colocado no mercado deverá ser destinado conforme previsão da PNRS entre 2021, 2022, 2023, 2024 e 2025 respectivamente. A definição das metas e o início da obrigatoriedade, já não era sem tempo. De acordo com o Internacional Solid Waste Association (ISWA), o mundo vem batendo recordes a cada novo ano de geração de lixo eletrônico. Em 2019, foram 53,6 milhões de toneladas geradas ou o equivalente a 46.812 estátuas do Cristo Redentor ou ainda 5.306 torres Eiffel. Segundo o ISWA a previsão é crescente, indicando que em 2030 serão 74 milhões de toneladas ou o equivalente à 64.600 estátuas do Cristo Redentor ou ainda 7.330 torres Eiffel, a associação afirma que os eletrônicos descartados são a categoria de lixo doméstico que mais cresce no mundo, impulsionada pelo forte avanço tecnológico que vemos diariamente na era da Quarta Revolução Industrial e catalisado pela Covid-19, esse número poderá ser ainda mais expressivo.
Apesar do termo logística reversa estar ganhando grande relevância, não estamos falando de algo novo, muito pelo contrário, ela já é praticada no Brasil há muitos anos e quando bem compreendia a sua função dentro da economia circular, que tem como baluarte a circulação de insumos pelo máximo de tempo possível, assim preservando os recursos e o valor econômico, se torna uma grande oportunidade de negócio e é o “berço” de grandes empresas do nosso país. Trago aqui algumas empresas brasileiras que fizeram história e sucesso debruçadas sobre a economia circular e a logística reversa:
Tramontina: sem dúvida uma das marcas mais famosas do Brasil e reconhecida internacionalmente, começou suas operações em 1911 no Sul do Brasil com o senhor Valentin Tramontina. Entre muitos desafios do empreendedor, o maior era conseguir matéria-prima. O aço 1070 utilizado para fazer as lâminas eram 100% importados, gerando uma escassez muito grande do insumo. Assim, a Tramontina encontrou na logística reversa a fonte de aço que precisava, aproveitando as molas de suspensão de automóveis e caminhões para a fabricação das lâminas, os cabos dos icônicos canivetes eram feitos de ossos, obtidos em frigoríficos locais. Dessa maneira, debruçada sobre conceitos da economia circular, mesmo sem saber, encontrou na logística reversa a autossuficiência de matéria-prima e o caminho para se tornar uma das maiores cutelarias do mundo.
Gerdau: outra empresa de origem sulista do Brasil, iniciou suas operações com uma fábrica de pregos em 1901. Quando se encontrava em fase de expansão, não tinha dúvida de que precisava ter autonomia em relação à matéria-prima que, assim como a Tramontina, dependia de importação e ainda sofria com o recebimento de metais oxidados da viagem. Em 1948, buscando a autossuficiência em adquiri-lo da Siderúrgica Riograndense,viu na logística reversa de sucata de ferro uma fonte abundante de material. Hoje, a Gerdau é uma empresa brasileira de reconhecimento internacional que já processou mais de 12 milhões de toneladas de ferro.
JR Diesel: teve um início bastante inusitado quando os dois caminhões do seu fundador se envolveram em acidentes quase que simultaneamente, inviabilizando o conserto. Assim, o senhor Geraldo Rufino decidiu vender as peças dos equipamentos a fim de minimizar o prejuízo, o que ele não sabia era que com isso nascia a maior empresa de desmontagem e aproveitamento de peças de caminhões da América Latina.
Empresas visionárias enxergam na logística reversa oportunidades de negócio e sem dúvida, o assunto estará na agenda de executivos de grandes empresas que veem na Economia Circular a fórmula para ter um negócio com propósito e valor.
*Marcelo Souza é CEO da Indústria Fox, pioneira em indústrias de reciclagem, refurbished de eletrônicos e plataformas digitais da economia circular