*André Abbud
Em oposição ao Eixo das Democracias, o Eixo das Ditaduras é liderado pela Rússia e pela China, duas potências autocráticas e revisionistas que buscam reconfigurar a ordem mundial em termos mais favoráveis aos seus interesses. A Rússia, sob a liderança de Vladimir Putin, busca restabelecer sua influência na Europa Oriental e Central, desafiando diretamente a OTAN e promovendo uma política externa agressiva, que se manifesta tanto por meio de intervenções militares quanto de campanhas de desinformação. A invasão da Ucrânia é apenas o exemplo mais recente dessa postura, que visa não apenas expandir o território russo, mas também enfraquecer a coesão da União Europeia e da aliança atlântica. Já a China, por sua vez, tem ambições globais claras e está engajada em uma série de movimentos estratégicos para garantir sua supremacia regional e expandir sua influência global. No Mar do Sul da China, Pequim construiu ilhas artificiais e bases militares em territórios disputados, desafiando diretamente os EUA e seus aliados na região. Além disso, a China também mantém uma postura agressiva em relação a Taiwan, que considera uma província rebelde. O risco de um conflito militar para a
reunificação da ilha está sempre presente, e a China tem feito investimentos maciços em modernização militar para se preparar para esse cenário, incluindo o comissionamento de novos porta-aviões e de um submarino nuclear.
Outro ator central no Eixo das Ditaduras é a Coreia do Norte, que mantém um estado de tensão constante com a Coreia do Sul e seus aliados. Pyongyang, sob o regime de Kim Jong-un, continua a realizar testes nucleares e de mísseis balísticos, desafiando sanções internacionais e ameaçando a segurança regional. A proximidade de Pyongyang com Pequim é uma garantia estratégica para o regime norte-coreano, que depende do apoio chinês para sua sobrevivência econômica e política.
O Irã também é uma potência chave nesse eixo, especialmente no Oriente Médio. Com ambições regionais claras, o Irã busca expandir sua influência através de alianças com milícias e grupos armados, as chamadas proxys, no Líbano, Síria, Iêmen e Iraque. Ao mesmo tempo, o avanço do programa nuclear iraniano e os ataques a instalações estratégicas por Israel aumentam o risco de um conflito generalizado na região, com consequências desastrosas para o fornecimento de petróleo e a estabilidade global.
Já a Venezuela, embora enfrente uma crise interna profunda, continua a desempenhar um papel no Eixo das Ditaduras por meio de suas relações estreitas com Rússia e China. O regime de Nicolás Maduro conta com o apoio diplomático, econômico e militar dessas potências, em oposição à influência dos EUA na América Latina e torna-se um ponto estratégico em um eventual conflito armado, por
ser a nação do eixo mais próxima do território dos EUA. A crise venezuelana, exacerbada por sanções internacionais, pela deterioração da economia e pela recente fraude eleitoral tem potencial de desestabilizar ainda mais a região, especialmente se houver uma intervenção militar externa.
O Paquistão, por sua vez, é um país que enfrenta tensões tanto internas quanto externas. Envolvido em uma rivalidade histórica com a Índia, o Paquistão tem laços estreitos com a China e busca apoio de Pequim para equilibrar sua dependência do Ocidente. A situação na Caxemira, uma região disputada entre Índia e Paquistão, continua sendo um ponto de tensão, com potencial para escalar em um conflito nuclear, especialmente à medida que ambas as nações fortalecem suas capacidades militares.
Os acontecimentos recentes como a invasão russa da Ucrânia intensificaram o conflito na Europa, levando à maior mobilização das forças da OTAN nas fronteiras orientais. No Mar do Sul da China, a construção de bases militares chinesas em ilhas disputadas e o cerco a movimentos de liberdade de navegação pelos EUA e seus aliados aumentaram as tensões na região. O avanço do programa nuclear iraniano e os ataques a instalações estratégicas por parte de Israel também acirraram os riscos de um conflito no Oriente Médio. Além disso, os testes contínuos de mísseis balísticos e nucleares realizados pela Coreia do Norte continuam a provocar respostas militares e diplomáticas da Coreia do Sul, Japão e
EUA. Na América Latina, a crise política e econômica da Venezuela, combinada com o apoio externo da Rússia e da China, aumenta a instabilidade na região e deteriora as relações diplomáticas com os EUA. No cenário global, esses acontecimentos geram pontos de tensão e conflito que podem escalar em uma guerra mundial. Na Europa Oriental, a Rússia continua a desafiar a presença da OTAN em países como Polônia, Romênia e os Bálticos. No Pacífico Ocidental, as disputas territoriais entre a China e seus vizinhos, como Japão e Filipinas, aumentam o risco de confrontos navais. No Oriente Médio, o Golfo Pérsico permanece uma região volátil, com a rivalidade entre Irã e Arábia Saudita podendo desencadear um conflito de grandes proporções e um novo choque do petróleo.
No caso de uma eventual escalada de conflito, resultando em uma nova guerra, os principais teatros operacionais incluiriam a Europa, onde a OTAN e a Rússia poderiam travar uma guerra convencional e híbrida, e o Pacífico Ocidental, onde o Mar do Sul da China e o Estreito de Taiwan se tornariam palcos de confrontos navais e aéreos entre China, EUA e Japão. O Oriente Médio também seria um ponto de conflito intensos, especialmente no Golfo Pérsico e nas fronteiras de Israel, enquanto que o subcontinente indiano permaneceria em alerta constante devido à rivalidade Índia-Paquistão. Por fim, poderíamos testemunhar uma intervenção norte-americana na Venezuela, buscando neutralizar um aliado do eixo Sino-Russo tão próximo do território americano.
Em um cenário de conflito mundial, regiões como o Brasil, a América Andina, a África Subsaariana, Patagônia e Islândia poderiam escapar dos combates diretos,
mas seriam impactadas pelos efeitos econômicos e humanitários, enquanto regiões como o Ártico e a Antártica provavelmente se manteriam isoladas dos confrontos devido à sua pouca relevância estratégica. Contudo, as implicações globais de uma Terceira Guerra Mundial seriam devastadoras, com a destruição em larga escala impactando profundamente a ordem mundial e a economia global, resultando em uma reconfiguração do equilíbrio de poder e alterando completamente o mundo como conhecemos hoje.
*André Nalepa Abbud, é graduado em administração e marketing pela ESPM, fundador da startup de investimentos Best Invest, instrutor de taekwondo e agente político. É entusiasta da geopolítica e estuda o assunto desde 2018, com ênfase em conflitos militares e geoeconomia.