*André Nalepa Abbud
Nos últimos anos, o mundo tem testemunhado uma série de eventos que aumentam as tensões globais. A invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, as crescentes tensões no Oriente Médio envolvendo Israel e o Irã com suas Proxys, e a deterioração das relações entre os EUA e a China são exemplos de situações que marcam a escalada da instabilidade global.
O cenário econômico mundial não passa por um bom momento, com a inflação em alta, cadeias de suprimentos globais interrompidas e desaceleração do crescimento econômico. Os acontecimentos dos últimos anos levaram a uma recessão econômica global que muitos países ainda estão tentando superar. Essas condições econômicas, somadas ao maior endividamento dos governos, têm o potencial de causar instabilidade social e política dentro e fora dos países, o que pode, por sua vez, alimentar conflitos internacionais. A história mostra que crises econômicas podem aumentar o risco de conflitos armados, à medida que os governos buscam distrair a população de problemas internos ou procurar recursos e territórios em outros lugares.
A relação entre os EUA e a China é atualmente uma das mais tensas e potencialmente perigosas do mundo. A competição estratégica entre essas duas superpotências abrange áreas como comércio, tecnologia, influência regional e militar. A “guerra comercial” iniciada durante a administração Trump e continuada, de certa forma, sob a administração Biden, é um reflexo dessa competição. Além disso, questões como Taiwan e o Mar do Sul da China são pontos de discórdia significativos que têm o potencial de desencadear um conflito direto.
A relação entre a Rússia e a OTAN também é uma fonte de preocupação. A expansão da OTAN para o leste e a resposta agressiva da Rússia criaram um ambiente tenso na Europa Oriental. A invasão da Ucrânia é um exemplo claro da disposição da Rússia de usar força militar para alcançar seus objetivos estratégicos.
A guerra na Ucrânia destacou a vulnerabilidade das fronteiras europeias e reacendeu o debate sobre a segurança na Europa. A resposta da OTAN e da União Europeia, com sanções econômicas e apoio militar à Ucrânia, marcou um novo capítulo na relação entre o Ocidente e a Rússia, tornando-se um ponto de fricção significativo.
Com a escalada das tensões entre Israel e Irã, com conflitos em curso na Síria e com a guerra civil no Iêmen, o Oriente Médio, que já era uma região de instabilidade, tem se tornado um ponto cada vez mais tenso no tabuleiro geopolítico global. Estes conflitos em curso, somados às tensões entre o Irã e a Arábia Saudita, e a escalada da guerra entre Israel contra as proxys iranianas, podem levar a região a se tornar palco do maior conflito regional em vigor na atualidade.
O contexto internacional contemporâneo está sendo marcado cada vez mais por uma crescente polarização entre potências globais, refletindo as tensões geopolíticas, econômicas e militares. A formação de dois blocos principais – o Eixo das Democracias (EUA, Japão, Índia, OTAN, Israel e Arábia Saudita) e o Eixo das Ditaduras (Rússia, China, Coreia do Norte, Irã, Venezuela e Paquistão) – destaca uma divisão ideológica e estratégica entre os principais players do cenário mundial, onde a deterioração das relações internacionais, impulsionada por disputas territoriais, interesses econômicos conflitantes e a busca por influência, está levando o mundo a uma escalada de tensões que pode culminar em um conflito global de proporções nunca antes vistas.
A crescente polarização geopolítica global está cada vez mais delineada entre dois grandes blocos de poder: o “Eixo das Democracias” e o “Eixo das Ditaduras”. Essas alianças refletem interesses profundamente divergentes, tanto econômicos quanto estratégicos, e são alimentadas por rivalidades históricas e modernas tensões geopolíticas. À medida que as potências globais se reorganizam, as nações dentro de cada eixo estão ajustando suas políticas externas para fortalecer alianças, consolidar parcerias estratégicas e, em muitos casos, preparar-se para possíveis conflitos. Nesse contexto, as relações entre os países envolvidos assumem uma importância central na dinâmica global.
O Eixo das Democracias é liderado pelos Estados Unidos, que, como a maior potência militar e econômica do bloco, desempenham um papel decisivo na formação e manutenção das alianças. Os EUA vêm reforçando suas parcerias tradicionais, especialmente dentro da OTAN, respondendo diretamente às ameaças de países como a Rússia e a China. Um exemplo disso é o fortalecimento das alianças no leste europeu, onde os Estados Unidos têm aumentado o apoio militar a países como Polônia e Romênia, temendo uma escalada do expansionismo russo. Além disso, os EUA estão estreitando os laços com potências emergentes na Ásia, como Japão e Índia, dois países que têm interesse direto em conter a influência crescente da China.
O Japão, inserido nesse eixo, enfrenta ameaças crescentes da China e da Coreia do Norte. A postura agressiva de Pequim no Mar do Sul da China e as contínuas provocações de Pyongyang com testes nucleares e balísticos criam um clima de tensão crescente no Pacífico. Isso levou Tóquio a aumentar a cooperação militar com os EUA, ao mesmo tempo que fortalece laços com outros aliados regionais, como Taiwan e as Filipinas, que compartilham da mesma preocupação com a ascensão chinesa. A estratégia japonesa se baseia em evitar o isolamento na região, construindo uma rede de alianças que possa, no futuro, agir como um contrapeso à China.
A Índia, por sua vez, também desempenha um papel estratégico importante no bloco das democracias. A rivalidade histórica com o Paquistão, uma potência nuclear vizinha, e a crescente cautela em relação à China, especialmente após confrontos nas regiões montanhosas dos Himalaias, levaram a Índia a buscar uma maior integração com as democracias ocidentais. Nova Délhi tem fortalecido suas
parcerias com os EUA, Japão e Austrália, além de engajar-se ativamente no diálogo do Quad, um fórum de cooperação entre essas nações. A Índia está particularmente interessada em conter a influência chinesa na Ásia Central e no Oceano Índico, onde a China expande sua presença através de iniciativas como a Nova Rota da Seda e a construção de bases militares.
Outro pilar essencial no Eixo das Democracias é a OTAN. A aliança atlântica, criada em 1949, no contexto da Guerra Fria, buscando opor-se à União Soviética. Composta por várias democracias europeias e liderada militarmente pelos EUA, tem aumentado sua presença militar na Europa Oriental, especialmente em resposta às ações agressivas da Rússia, como a anexação da Crimeia em 2014 e a invasão da Ucrânia em 2022. A OTAN também busca modernizar suas capacidades militares para enfrentar a guerra híbrida, que combina ações convencionais, ataques cibernéticos e campanhas de desinformação, técnicas frequentemente empregadas por Moscou para desestabilizar países vizinhos e enfraquecer a coesão europeia.
Israel e Arábia Saudita, apesar de não serem democracias tradicionais, são aliados centrais dos EUA no Oriente Médio. Israel, em constante estado de alerta devido às ameaças iranianas e ao conflito com grupos armados em suas fronteiras, como o Hezbollah e o Hamas, coopera de forma estreita com os EUA em termos de inteligência e defesa militar. Israel também tem buscado alinhar-se com outros países árabes, como a Arábia Saudita e a Jordânia, em uma frente comum contra o Irã, especialmente após os Acordos de Abraão, que formalizaram relações entre os vários estados do Golfo. A Arábia Saudita, por sua vez, enfrenta uma rivalidade histórica e crescente com o Irã, tanto por motivos religiosos quanto por disputas de influência na região do Golfo. Com a intensificação do conflito contra os Houthis no Iêmen e com a crescente influência de grupos apoiados pelo Irã no Iraque, Líbano e Síria, Riad continua a depender fortemente do apoio militar e logístico dos EUA para assegurar sua influência no Mar Vermelho e na Península Arábica. No entanto, a Arábia Saudita também tem explorado novas alianças regionais, diversificando suas parcerias para mitigar qualquer potencial enfraquecimento do apoio ocidental.
*André Nalepa Abbud, é graduado em administração e marketing pela ESPM, fundador da startup de investimentos Best Invest, instrutor de taekwondo e agente político. É entusiasta da geopolítica e estuda o assunto desde 2018, com ênfase em conflitos militares e geoeconomia.