Mais uma vez o Democratas tenta se reerguer dos escombros de uma derrota eleitoral para assumir o papel com que seus dirigentes sonhavam, mas que ainda não conseguiram transformar em realidade: ser um grande partido liberal próximo especialmente da classe média, trabalhando questões que afetam seu dia a dia, como o meio ambiente, os altos impostos, o desemprego, o apagão aéreo e a insegurança pública.”O partido saiu-se mal das eleições, com poucas exceções, e tem que reencontrar seu caminho, porque está murchando”, constata o presidente de honra, Jorge Bornhausen.
Na sua opinião, se não houvesse uma solução razoável como a alcançada, com a antecipação das eleições da direção nacional para março, o partido explodiria.
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ganhou um conforto interno com a saída iminente do deputado federal Rodrigo Maia da presidência do partido e tempo para pensar qual o melhor passo, se permanecer no DEM ou ir para o PMDB. Ele e a senadora Kátia Abreu são hoje os principais nomes do partido, e a decisão de renovar a direção nacional do DEM deu a Kassab o tempo necessário para não tomar decisões precipitadas: “Não se sabe se vai haver janela, o que o governo pretende fazer. Ele não precisa tomar nenhuma atitude precipitada agora”, comenta Bornhausen.
A visão que prevalece é a de que o partido foi muito corroído pelo episódio do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, que surgia como a grande estrela do DEM e foi apanhado em um vasto esquema de corrupção que ficou conhecido como “o mensalão do DEM”. O episódio foi “dramático” na definição de Bornhausen, que considera, no entanto, que o partido pagou “dez vezes mais do que merecíamos”.
Apesar de ter expulsado os membros do partido envolvidos no episódio, o DEM ficou marcado, num processo que o desgastou muito politicamente, provocando o enfraquecimento do partido.
Quando a Frente Liberal foi criada, de uma dissidência do PDS, não conseguiu impor seu conceito de liberal. O ex-vice-presidente da República Aureliano Chaves, que era um dos líderes, era um estatista absoluto, lembra Bornhausen. Para ele, o PFL só começou a ganhar uma cara ideológica em 1993, quando preparou um trabalho para a revisão constitucional. “Mesmo ela frustrada, nós conseguimos fazer uma revisão completa, nos posicionando”, ressalta.
O político que melhor refletia essa posição liberal do antigo PFL era o falecido Luís Eduardo Magalhães. Na própria Constituinte ele organizou o Centrão para se contrapor ao espírito esquerdista que imperava. Sua morte prematura, ele que estava sendo preparado para ser candidato à Presidência da República, e o caso de Roseana Sarney, que teve de desistir de disputar a Presidência quando liderava as pesquisas de opinião por denúncias de caixa 2, são episódios que trouxeram abatimento ao partido, apesar de uma participação importante no governo Fernando Henrique.
Quando promoveram a refundação programática do partido, numa posição que Bornhausen classifica de “centro humanista e reformador”, não houve a reformulação das bases partidárias, e os chamados cartórios eleitorais continuaram em vários estados. O ex-senador Jorge Bornhausen considera que é preciso buscar novas formas de interagir na sociedade, “ir para as associações comerciais, diretores lojistas”, estar mais próximo do eleitor de classe média. A derrubada da CPMF, comandada por uma campanha do deputado Paulo Bornhausen, foi a única vitória da oposição em oito anos, ressalta.
A mudança programática já se desenhava desde uma reunião da Internacional Democrática de Centro (IDC) realizada no Rio, em 2005.
A IDC, presidida pelo ex-presidente do governo espanhol José María Aznar, contrapõe-se à Internacional Socialista, que reúne os partidos de esquerda e social-democratas no mundo.
Eles pretendiam apresentar uma plataforma verdadeiramente liberal como alternativa para o desenvolvimento do país. Essas mesmas políticas estariam representadas também por Jacques Chirac, na França; Durão Barroso, do PSD, em Portugal, hoje presidente da Comissão Europeia, e o Partido Republicano nos Estados Unidos.
O que os Democratas sugerem é que estaria na hora de tentar uma verdadeira experiência liberal, com uma reforma do pacto federativo para diminuir o tamanho do Estado e assim conseguir também uma redução de impostos. O exemplo do governo Aznar, quando a Espanha teve um surto de desenvolvimento e geração de empregos, é usado para explicar os objetivos do novo partido.
Embora nenhum político brasileiro se declare “de direita”, e o presidente Lula tenha destacado a determinada altura da campanha eleitoral que era um luxo não ter qualquer candidato “de direita” na disputa, a direita política está sempre presente nos governos formados a partir da redemocratização, em 1985, quando Tancredo Neves se elegeu presidente da República.
Transformar-se em um representante com credibilidade do centro-democrático, uma caracterização que a direita mundial tenta emplacar, seria o objetivo, e foi esse o papel que o deputado Indio da Costa, candidato a vice na chapa de José Serra, exerceu na campanha eleitoral, vocalizando as críticas ao esquerdismo mais radical do PT, assumindo-se como porta-voz de um eleitorado mais conservador.
“Só onde o partido estava muito sólido, como em Santa Catarina e Rio Grande do Norte, tivemos condições de aguentar o tranco”, comenta Bornhausen.
Não é à toa, portanto, que o futuro presidente do partido deva ser o senador reeleito José Agripino Maia, do Rio Grande do Norte. Agora, a tarefa primordial é “recuperar um posicionamento”.
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