Durante o “big bang” da liquidez global – a fase de expansão excessiva do crédito a partir das taxas de juros muito baixas do Federal Reserve, o banco central americano -, subiam os preços dos imóveis nos Estados Unidos, as bolsas em todo o mundo e também as cotações do euro, do ouro, do petróleo e das demais commodities. De 2003 a 2007, observamos uma seqüência inédita no pós-guerra de taxas de crescimento econômico global acima de 4% ao ano. Quando sobem os juros em resposta a uma reaceleração dos preços em escala planetária, revelam-se em 2007 a extensão da crise imobiliária e em 2008 o excesso de alavancagem do sistema financeiro.
Pois bem, durante o atual “big crunch” da liquidez global – a fase de contração abrupta do crédito pela implosão de um sistema financeiro excessivamente alavancado -, desabam sincronizadamente os preços dos imóveis nos Estados Unidos, as bolsas em todo o mundo e também as cotações do euro, do ouro, do petróleo e das demais commodities. E o grande receio é esse buraco negro que já engoliu gigantes financeiros e ameaça tragar o restante da economia americana derrube também a economia mundial.
Esta crise de confiança – com resgates de fundos, desalavancagem forçada, liquidação de ativos e interrupção dos canais de crédito – explica o plano de salvamento aprovado pelo Congresso americano. É uma tentativa de assegurar a solvência das instituições financeiras, pela compra dos ativos tóxicos, desbloqueando os canais de suprimento de crédito, antes que se danifiquem seriamente as engrenagens da produção e do emprego.
Os bancos centrais sempre estiveram atentos à inflação, inimigo público de fácil detecção pelos efeitos corrosivos sobre salários, aposentadorias e poupanças. Muito mais difícil foi identificar no próprio banco Fed o inimigo invisível responsável pela farra do crédito e pela exuberância irracional dos mercados. Pois os radares inflacionários estiveram desligados pelo mergulho de 3 bilhões de eurasianos nos mercados de trabalho globais, pelas reduções de custo promovidas por inovações tecnológicas e pela derrubada competitiva de preços resultante da globalização. E nos crashes de 1929 nos EUA e de 1989 no Japão o alarme inflacionário não soou.
Pode o Brasil escapar do buraco negro? Sim, temos dinâmica de crescimento interno para tanto. Mas a reavaliação das empresas em bolsa é inevitável, como também a desvalorização do real em meio à queda dos preços das commodities e à implosão do crédito externo. Essa interrupção dos fluxos de capitais produz adicionalmente uma pressão de alta nos juros internos, levando o Banco Central a reduzir o recolhimento compulsório dos bancos para impedir a transmissão do choque externo ao mercado de crédito doméstico. Uma resposta à altura da crise seria a meta de déficit nominal zero, pois juros baixos e câmbio alto serão necessários na guerra mundial por empregos.
(O Globo – 6/10/2008)
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