Os impostos estão comendo o orçamento do brasileiro neste Natal. A maioria dos produtos que irão enfeitar lares e rechear as ceias vai impor ao consumidor uma carga tributária pesada. Na maioria dos itens, quase metade do valor gasto nas compras já tem destino certo: os cofres da União, dos estados e dos municípios. No caso de luzes (pisca-pisca), estrelas e outros adornos, de cada R$ 100 desembolsados, R$ 48 são para os impostos. Nem mesmo o tradicional panetone escapou à fome do Fisco. Mais de um terço do preço do tradicional bolo natalino irá bancar os gastos do poder público.
Apesar de tantos tributos apertando o orçamento, grande parte dos consumidores ignora a cobrança embutida nas compras. De acordo com o Instituto Millenium, 20 milhões de brasileiros desconhecem a existência dos impostos nos produtos que adquirem cotidianamente. “Como elas não sabem disso, acham que tudo que vem do governo é bondade gratuita e não exigem qualidade, apenas agradecem”, criticou o diretor executivo da entidade, Paulo Uebel.
Baixa renda Analistas de tributos alertam ainda que o sistema de cobrança de impostos no Brasil é ainda mais “perverso” com as famílias de baixa renda. Proporcionalmente, os pobres pagam mais impostos que os ricos. Os produtos de necessidade básica são altamente tarifados, como alimentos, energia e vestuário. Para Uebel, os produtos natalinos não são diferentes. Seguem a mesma regra da sobretaxação. “As pessoas saem às compras e acabam gastando mais do que gostariam em função do peso dos impostos.”
De 10 produtos tipicamente consumidos no Natal, selecionados pelo Instituto Millenium, 5 têm carga de impostos equivalente a quase a metade do preço cobrado pelo item. No primeiro lugar do ranking dos mais caros em função dos tributos, está o vinho: 54,73% do que o consumidor paga por uma garrafa são impostos. O segundo lugar ficou para os enfeites, com 48,02%. Na esteira do peso dos tributos, seguem o bacalhau (43,8%), vela (40,9%) e árvore de Natal (39,23%).
A despeito do tamanho da mordida sobre o orçamento das famílias, Uebel lembra que todos os recursos deveriam ser revertidos em serviços públicos. Mas, não é exatamente o que ocorre. “Um terço do panetone, por exemplo, vai para o governo custear os serviços públicos. A população, além de presentear alguém, contribui para o funcionamento do Estado”, disse.
De acordo com estimativas do Instituto Millenium, os impostos irão representar ao fim deste ano 40,54% de todo o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país). Mas esse número ainda pode ser revisto, dependendo da atividade econômica em dezembro.
No bolso Quanto o governo levará de cada produto que o brasileiro comprar neste fim de ano Mercadorias – Imposto (Em %) Vinho – 54,73 Enfeites de Natal – 48,02 Bacalhau – 43,80 Vela – 40,90 Árvore de Natal – 39,23 Nozes – 36,45 Presépio – 35,93 Panetone – 34,63 Chester/Peru/Pernil – 29,32 Frutas – 21,78 Fonte: Instituto Millenium
Vendas acumulam alta de 11,1% O Natal deste ano promete ser o melhor dos últimos 10 anos. As vendas do comércio varejista cresceram 0,4% frente a setembro. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e ficaram abaixo dos 1,15% estimados pela maioria do mercado, mas, ainda assim, foram celebrados por representantes do varejo. Até outubro, as vendas acumulam uma elevação de 11,1% — o maior resultado desde que o levantamento começou a ser feito, em 2003. Quando incluídos os automóveis, o salto do comércio foi de 2,1% na comparação mensal.
O resultado do mês, conforme os técnicos do IBGE, foi influenciado pelo aumento da renda dos trabalhadores, avanço do crédito e ainda pelo dólar fraco frente o real. “Essa taxa de câmbio tem incentivado as importações. Os produtos entram no mercado com um valor baixo e competem fortemente contra os nacionais, derrubando preços”, analisou Reinaldo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal do Comércio, realizada pelo instituto.
A concessão de crédito, que tem impulsionado a aquisição de bens, somou R$ 69 bilhões apenas em outubro. Há 10 anos, quando o Banco Central começou a calcular o volume de financiamentos e empréstimos no mercado, esse montante estava em R$ 19 bilhões — o avanço superou os 260%. “O crediário tem sido uma das principais ferramentas a impulsionar o crescimento. Apesar de o governo ter feito algumas restrições aos prazos, principalmente de veículos, o mercado está se ajustando e vai acabar encontrando alternativas para continuar a financiar o consumo”, ponderou José Luiz Araújo, diretor da In Finanças, empresa que opera o crediário da Caixa Fácil.
Alimentos As receitas do comércio cresceram em ritmo mais forte: registraram 1,3% entre setembro e outubro. A diferença entre os números ficou por conta da inflação. Vários produtos, principalmente do grupo alimentação, encareceram fortemente no período. “Com isso, o destaque negativo entre os varejistas ficou com supermercados. O preço dos alimentos jogou contra”, avaliou Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Em função da comida mais cara, o brasileiro passou a comprar menos e o segmento registrou queda de 0,2% nas vendas de outubro.
Mas os dados do IBGE levaram a CNC a revisar suas projeções para o ano. A previsão de crescimento de vendas passou de 10,8% para 11,2%. “Estamos crescendo forte e, a não ser que aconteça uma crise muito forte e imprevisível, acho que devemos continuar nos próximos anos ancorados no consumo das famílias”, disse Bentes. A dúvida dos analistas acerca do tamanho do crescimento esbarra apenas no segmento automotivo. Em outubro, o setor avançou 6,8% frente a setembro e levou o comércio varejista a registrar incremento de 2,1%. A expectativa para o fim do ano e os próximos, porém, é de uma forte desaceleração em função de financiamentos mais caros e prazos encurtados.(VM)
Fonte: PB AGORA
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