Nem bem assumiu, o novo ministro da Justiça anuncia que vai estender para todo o Brasil a bem-sucedida experiência das UPPs do Rio de Janeiro. Parabéns, ministro! No próximo filme da tropa de elite, esperamos que a sequência final, em vez de parar na Comissão de Ética do Congresso, comece com as providências de cobrança e de prestação de contas da Secretaria Nacional de Segurança. E aí, estaremos mais perto de evoluir de fato para o que promete a sigla do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Pois, se o primeiro filme tratava a violência social como puro confronto entre o narcotráfico e a tropa de elite da PM e, no segundo, se explicita um eloquente nexo causal entre a violência social e a violação legal de nossas elites políticas, no terceiro certamente teremos a tão esperada união das ações das autoridades de segurança articuladas com a cidadania. E não apenas a articulação entre os entes públicos e os níveis de administração.
Se o capitão Nascimento nasceu para herói já é um avanço no rumo de uma nova cultura de cidadania, que é necessariamente uma cultura de legalidade contra a impunidade. Se nosso herói evoluiu de uma ação voluntarista para questionador do que chama “o sistema”, com habilidade o roteiro o transformou de caçador de traficante para porrador de deputado corrupto. E é exatamente aí que a plateia explode. Não é comum ver nas telas do cinema, e de modo tão explícito, este nexo de causalidade, que está a mudar todo o nosso imaginário social. Se a parte dois do filme continua na linha da violência, a porrada muda de endereço, se dirigindo à milícia como o novo ator coadjuvante da violação legal das nossas elites. Se isto pode fazer os cidadãos meditarem sobre sua própria responsabilidade política, outras instituições ficaram faltando para a completa descrição do “sistema”, como a própria Corregedoria da Polícia, o Ministério Público e, sobretudo, a ação dos tribunais e da magistratura.
Muita articulação para um único ministro e que ainda nos deixa muito longe da cinematografia dos trial movies de países de cidadania mais desenvolvida. Mas pelo menos começamos a avançar ao encontro do que o público anseia, o que já é extraordinário e explica o sucesso do filme. A superação dos maniqueísmos da cultura de barbárie e que não tem sido detectada corretamente sequer pelos institutos de pesquisa. Vide a surpresa do ficha limpa que ninguém acreditava. Vide a surpreendente votação na Marina Silva de quase vinte milhões de eleitores que ninguém previu. Vide a bilheteria recorde deste segundo Tropa de Elite. São cidadãos querendo pautar a questão da ética na política e que não estão suportando mais o nível de degradação de sua representação. Oxalá seja esta mesma a compreensão e a disposição de nosso atual ministro!
Publicado em: O Globo, 12/01/2011
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