Claro que é sempre reconfortante ver as pessoas em qualquer lugar do mundo superando regimes despóticos. Como disse o historiador iraniano Kasravi: “Nada é tão arrebatador quanto ver as pessoas ganharem sua liberdade”. Os recentes acontecimentos na Tunísia e no Egito, mostrando o poder do povo contra um regime despótico, têm muitas semelhanças com os eventos no Irã, em 2009, mas há grandes diferenças que podem explicar por que – ao que parece – as concessões na Tunísia e Egito vêm sendo obtidas muito mais rápido.
Vendo as fotos da Tunísia e do Egito, percebe-se que o tamanho da multidão no Irã era muito maior. Nenhum dos protestos no Egito e na Tunísia chega sequer perto da multidão de três milhões que foram para as ruas de Teerã, seis dias após as eleições fraudulentas em junho de 2009. No entanto, a repressão do regime aos protestos no Irã foi muito mais brutal e selvagem do que na Tunísia ou no Egito. As pessoas no Egito e na Tunísia não foram atacadas em suas casas e nem arrancadas do topo de seus telhados por simplesmente cantarem “Allah Akbar” à noite. Os manifestantes feridos na Tunísia e no Egito não foram atacados em hospitais e arrastados de seus leitos. Os manifestantes não foram presos e levados para centros de detenção como Kahrizak, nem estuprados na Tunísia e no Egito como se estivessem no Irã.
O regime iraniano já perdeu o poder através de uma revolução, e, portanto, sabe pela experiência como evitar que isso aconteça novamente. De acordo com um amigo meu no Irã, o comandante da Guarda Revolucionária disse: “Faremos tudo o que o Xá não fez, e não faremos qualquer coisa que o Xá tenha feito durante a revolução de 1979. Apenas uma concessão será suficiente para abrir as comportas e aumentar a confiança das pessoas em derrubar o regime. Não daremos uma concessão sequer aos manifestantes”.
Apenas para lembrar como foi a brutal repressão no Irã, assista ao vídeo do ataque às repúblicas estudantis aqui, o que resultou em cinco estudantes mortos: http://www.youtube.com/watch?v=c2y9Wl_teFY
Além disso, jornalistas estrangeiros não foram expulsos do Egito e da Tunísia, como foram no Irã, logo após os protestos. Quando os manifestantes iranianos usaram as ferramentas de redes sociais como Facebook e Twitter, e jornalistas e cidadãos fizeram upload de suas fotos e vídeos pelo celular, os manifestantes iranianos foram rapidamente rotulados pelos intelectuais de esquerda ocidentais ricos como “moleques burgueses do Norte de Teerã”, que não representam o país.
Essas imagens foram feiras no Irã. As meninas da foto foram rotuladas como “a elite da classe média”:
Na Tunísia, existiam sindicatos com milhares de membros que podiam ser usados para organizar os protestos. No Irã, o menor grupo ou organização que não seja sancionado e controlado pelos canais oficiais, não sobrevive. Obama e outros líderes ocidentais foram rápidos ao condenar a violência no Egito e na Tunísia, mas, quando o mesmo aconteceu no Irã, eles vacilaram e ficaram preocupados que, caso condenassem as mortes, isso fosse interpretado pelo regime iraniano como uma interferência ocidental!
A derrubada de qualquer ditadura feroz necessita da mais ampla coalizão possível, mas muitos exilados iranianos fizeram todo o possível para minar essa coligação e propagar o divisionismo.
Ver tudo isso não foi, talvez, mais irritante do que assistir a jornalista hipócrita da TV Press [1], Yvonne Ridley, alegando que “o que o povo egípcio está fazendo é muito corajoso, pois, como podemos ver em nossas telas, o que eles estão enfrentando é a máquina terrível que procura incutir medo, e que brutaliza o povo”. Yvonne Ridley naturalmente ignora as pessoas corajosas que se levantaram contra a máquina terrível de terror que paga seu saláriono Irã.
A coalizão Stop the War, que durante os protestos no Irã recusou-se a expressar qualquer solidariedade com os manifestantes iranianos, usando a desculpa de que “estamos apenas preocupados com situações de guerra”, não perdeu tempo em expressar solidariedade ao povo do Egito. Nos próximos dias, eles irão realizar uma reunião pública em Conway Hall, em solidariedade à revolta egípcia, com palestrantes como George Galloway e John Rees [2]. Que Deus salve o povo egípcio de tais expressões de solidariedade!
Como Mark Urban disse na BBC: “Todas as revoluções possuem importância épica e consequências. O resultado, porém, é incerto, e qualquer grupo minoritário extremista e violento pode acabar com o poder, como no Irã em 1979, e na Rússia em 1917”. No entanto, as chances de uma minoria violenta derrubar o poder por meio de protestos no Irã em 2009 sempre foi muito mais remota, por causa da tolerância e da paz exibidas pelos manifestantes durante os protestos:
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=ttxINV_EF50 [/youtube]
Tradução: Cristina Camargo
Publicado no blog de Potkin Azarmehr
N.do T.:
[1] Emissora oficial do regime iraniano.
[2] Políticos ativistas da esquerda britânica com posicionamentos anti-americanos e anticapitalistas. Rees é integrante da coalizão Stop the War e membro do Partido Socialista dos Trabalhadores da Grã-Bretanha.
No Comment! Be the first one.