Em “Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida” (Companhia das Letras, 2011), Xinran, jornalista e autora de “As boas mulheres da China”, aborda o sofrimento humano resultante da interação de uma milenar cultura machista com circunstâncias históricas, econômicas e sociais específicas. Em dez capítulos, são apresentadas dez histórias marcadas pela interrupção da relação mãe-filha, de meninas que nunca conheceram suas mães biológicas e mulheres que deram a filha em adoção a casais de camponeses que vivem sem endereço fixo, viajando pelos quatro campos da China para burlar a fiscalização da lei do filho único. A lei, criada no final da década de 70 pelo Partido Comunista, impede casais chineses de terem um segundo filho devido ao grande volume populacional no país. A consequência é fatídica devido à “preferência cultural” pelo sexo masculino dos chineses.
Após relutar, Xinran decidiu abordar esse delicado tema e dedicar um livro às centenas de milhares de mães chinesas que se viram levadas a rejeitar – e até mesmo a matar – suas bebês: pela primeira vez, elas teriam suas histórias ouvidas. São, é claro, histórias alarmantes, como a vez em que a própria autora testemunhou, em Yimeng, numa das áreas mais pobres da China, uma parteira afogar uma menina recém-nascida num balde de água suja. Mas o livro ainda é cheio de dados estatísticos também preocupantes: uma família chinesa gasta de 1,3 mil a 6,5 mil dólares para adotar um menino, mas apenas de 25 a 39 dólares por uma menina. Juntos, material humano, dados históricos e informações estatísticas compõem um envolvente panorama de tristes experiências de maternidade.
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