Em função dos danos sofridos pela economia japonesa, a atividade seguradora internacional terá de fazer frente a bilhões de dólares em indenizações de todos os tipos
Apalermado o mundo assiste o desenrolar do drama. Não há o que fazer para evitar que se repita e muito pouco a ser dito sobre a potencialidade humana, exceto sobre nossa imensa capacidade de sobrevivência.
Perto das dimensões das perdas decorrentes do terremoto e do tsunami que devastaram o litoral japonês, os danos causados pelo furacão Katrina, que arrasou Nova Orleans, são brincadeira de criança.
O ser humano está diante da maior perda econômica de sua história. Ainda é cedo para estimar o total dos prejuízos, mas é possível falar em US$ 300 bilhões, sem levar em conta o custo da ameaça nuclear, em função dos vazamentos enfrentados por mais de uma usina.
Para parametrizar a ordem de grandeza envolvida, o atentado terrorista de 11 de setembro custou perto de US$ 80 bilhões, sendo que foram atingidos alguns edifícios, além das duas torres, e morreram perto de três mil pessoas.
O Japão viu o terremoto e as ondas gigantes pulverizarem cidades inteiras, com seus portos, embarcações, fábricas, escritórios, lojas, residências e veículos de todos os tipos sendo completamente destruídos.
A estimativa do número de mortos já passa de dez mil. Centenas de milhares de empregos estão comprometidos. Falta luz, água, alimentação saudável, medicamentos e tudo o mais que seria necessário para fazer frente ao cataclismo.
Até mesmo a cavalaria foi chamada. Como acontecia nos antigos filmes de caubói, nos quais a cavalaria chegava para salvar o mocinho da garra dos índios, o governo japonês, num ato de extremo bom senso, não sentiu vergonha de pedir socorro aos Estados Unidos para auxiliá-lo a lidar com os gravíssimos problemas em seus reatores nucleares.
De outro lado, o governo, para acalmar o mercado financeiro, já injetou na economia japonesa perto de US$ 200 bilhões, que, caso o acidente não tivesse acontecido, seriam utilizados de outra forma. Em outras palavras, as perdas mal começam a ser quantificadas e os números já atingem patamares estratosféricos.
Ao contrário dos países atingidos pelo tsunami que varreu o sul da Ásia alguns anos atrás, o Japão tem uma das maiores taxas de seguro per capita do mundo. Ou seja, em função dos danos diretos e indiretos sofridos pela economia japonesa, a atividade seguradora internacional terá de fazer frente a bilhões de dólares em indenizações de todos os tipos, comprometendo seriamente a capacidade de várias carteiras e o resultado de expressivo número de seguradoras e resseguradoras.
Ainda que boa parte das indenizações venha a ser paga através de apólices emitidas por seguradoras japonesas, a atividade seguradora se caracteriza pela globalização da colocação dos resseguros, com empresas sediadas nos mais variados países assumindo responsabilidades em todos os cantos do planeta.
A realidade japonesa não é diferente. Mas ainda que o fosse, a ordem de grandeza dos danos afetará diretamente o resultado do mercado internacional em 2011. E não estou computando nesta conta os custos dos vazamentos de radioatividade.
Ao contrário do Brasil, onde mal e mal as pessoas fazem seguros contra incêndio, a população japonesa tem o hábito de contratar seguros para minimizar o impacto de todos os tipos de sinistros seguráveis, incluídos terremotos e tsunamis.
Assim, desde o primeiro momento, as carteiras de seguros de danos patrimoniais, vida, acidentes pessoais e acidentes do trabalho serão fortemente impactadas. E, no segundo momento, os seguros de responsabilidade civil também serão severamente atingidos.
De novo a título de comparação, os danos causados pelo acidente com o petroleiro Exxon Valdez ultrapassaram US$ 15 bilhões e o acidente nuclear de Chernobyl, se tivesse seguro, teria custado, à época, mais de US$ 30 bilhões, ainda que ocorrendo em área pouco habitada.
O total da conta da tragédia japonesa, neste momento, pode ser apenas imaginado. Mas com certeza será a mais cara jamais enfrentada pela humanidade em tempos de paz.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 21/03/2011
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