Depois de uma novela que havia se tornado desinteressante, o Partido Social Democrático (PSD), organizado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, finalmente foi autorizado a funcionar – o que significa que poderá lançar candidatos às eleições municipais de 2012.
Aparentemente, isso representará na cena política brasileira pouco mais do que uma dança de cadeiras entre políticos. Afinal, já se perdeu a conta do número de organizações criadas no Brasil desde que, com o fim do regime militar, ficou mais fácil dar vida a partidos.
Alguns entraram e saíram de cena sem deixar lembranças positivas – como o PRN, que elegeu o presidente Fernando Collor em 1989, e o Prona, sigla menos conhecida do que o bordão de seu criador: “Meu nome é Enéas!”. Um slogan sucinto devido ao tempo reduzido que o então candidato tinha no horário eleitoral.
E, se o ex-deputado Enéas Carneiro (eleito com mais de 1,5 milhão de votos no pleito de 2002) é mencionado neste texto, o objetivo não é o de comparar seu partido – nanico e efêmero – com o de Kassab.
A intenção, ao contrário, é justamente mostrar por que, num país que desde anteontem conta com 28 partidos em funcionamento, a criação de mais um tem causado tanta confusão.
De algumas semanas para cá, começaram a chover denúncias de que, entre as centenas de milhares de pessoas que assinaram a documentação de constituição do partido, algumas eram falsas. E eram falsas mesmo – o que é inaceitável. Tanto que a Justiça as rejeitou.
Por outro lado, a quantidade de assinaturas verdadeiras superava, em muito, o mínimo exigido pela Justiça para constituir a agremiação. E foi nesse aspecto, o do cumprimento dos requisitos legais, em que a Justiça se baseou para proferir sua decisão. Querer empastelar o processo agora, como alguns ainda querem, é apenas chicana.
É difícil acreditar que exista entre quem levou à imprensa a denúncia da existência de assinaturas falsas uma única pessoa preocupada com a moralidade por trás desse tipo de gesto. Não. O problema é que a nova sigla exerceu uma força de atração considerável sobre políticos insatisfeitos com seus partidos de origem. Notadamente o DEM e o PSDB – os que mais perderão integrantes. Junto com a ficha de filiação, eles carregam o ativo mais precioso que um partido político pode ter: tempo de exposição durante a propaganda eleitoral.
Quanto mais parlamentares tiver uma legenda, mais minutos ela ocupará na TV – e, no atual jogo da política brasileira, isso conta mais do que tudo. O sucesso da iniciativa do PSD (e aqui não se discute o credo da legenda) é um fato a ser comemorado.
A legenda surge tirando tempo de outras que não vinham conseguindo passar o seu recado, atrair eleitores ou se distinguir na cena política. Das antigas legendas, a mais prejudicada foi o DEM, que viu o político que ocupava o cargo mais importante entre seus filiados tomar uma atitude que não tomaria se estivesse satisfeito com as decisões dos políticos que controlam a máquina partidária.
A legislação eleitoral brasileira é imperfeita. Mas os partidos, nenhum deles, em nada ajudam a criar um ambiente mais saudável para o exercício do debate e da discussão das propostas políticas. O surgimento de um partido como o PSD não deixa de ser uma espécie de reforma política. De baixo para cima.
Fonte: Brasil Econômico, 29/09/2011
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