“A pátria em chuteiras”, na expressiva descrição de Nelson Rodrigues, tornou-se mundialmente conhecida pelo futebol. Aos poucos, a atividade esportiva foi-se diversificando e hoje somos uma força também, entre outros, no voleibol, na natação e nos náuticos.
No momento em que o Brasil completava sem brilho os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em que entramos na reta final do Campeonato Brasileiro de Futebol e começam a ficar apertados os prazos para a organização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, o esporte virou notícia nas páginas policiais. A queda do ministro do Esporte, depois da abertura de inquérito pelo Supremo Tribunal Federal (STF), juntamente com o ministro anterior, por desvio de recursos públicos por meio de ONGs que deveriam atuar para ajudar no desenvolvimento de diferentes atividades esportivas, é mais um episódio lamentável numa área que se tornou sensível politicamente por compromissos internacionais assumidos pelo País com a Copa e os Jogos Olímpicos.
Cresce, cada vez mais, a percepção de que o comando esportivo do Brasil, do governo às entidades responsáveis pela organização das diferentes atividades, está defasado e necessita de reforma e faxina generalizada.
No caso do futebol, a estrutura personalista, não empresarial nem profissional, na direção dos clubes, a falta de um calendário que compatibilize os diferentes campeonatos regionais e nacionais com os compromissos internacionais dos clubes e da seleção justificam os comentários de Juca Kfouri, que, em artigo no atual número da revista Interesse Nacional, observa, com propriedade: “Na verdade, vivemos sem saber o que queremos ser quando crescer em matéria de política esportiva e não temos sido capazes de nos aproveitar das oportunidades que a globalização oferece, limitados ao papel de exportar matéria-prima, com nos tempos da dependência do País essencialmente agrícola”.
Tudo isso explica o episódio, amplamente noticiado, do abandono, desde 2007, de facilidades de treinamento em Campos do Jordão para atletas que iriam representar o Brasil no exterior. O centro não saiu do papel, embora os recursos tenham sido transferidos e apropriados por alguém.
Diante desse quadro negativo, quem haveria de supor que o Brasil está entre as maiores potências esportivas do mundo?
Recentemente tomei conhecimento de um site, criado por três rapazes fanáticos por esporte, que veio suprir uma lacuna: a ausência de um verdadeiro ranking mundial de países na prática de todos os esportes. O site, criado em 2008, chama-se greatestsportingnation.com e é atualizado mensalmente. Para organizar esse ranking não foram poucos os desafios: como combinar esportes coletivos e competições individuais e como distribuir pontos em cada competição. Não estão incluídos, pela dificuldade de aferir pontuação, campeonatos de clubes no futebol, no hóquei e no basquetebol, além de esportes motorizados (carros e motos) e envolvendo animais, com exceção dos equestres, por fazerem parte dos Jogos Olímpicos.
Depois de incluir cerca de 80 diferentes atividades esportivas, concedendo pontos aos primeiros oito colocados, em eventos que devem necessariamente ser internacionais, 110 nações marcaram pelo menos um ponto, até agosto. O resultado em 2011 repete os de 2008 a 2010. Como era de esperar, os EUA dominam a cena, marcando pontos na quase totalidade das 80 atividades esportivas, sobretudo em virtude da força de suas esportistas femininas.
O ranking mundial das 20 primeiras potências esportivas, seguro indicador da pujança esportiva do país, é o seguinte: EUA, Rússia, França, China, Japão, Alemanha, Canadá, Austrália, Suécia, Áustria, Itália, Reino Unido, Coreia do Sul, Noruega, Brasil, Suíça, Espanha, Finlândia, Polônia e Holanda.
A posição, no 15.º lugar, ocupada pelo Brasil tem grande significado e mostra o potencial do País, forte nos esportes coletivos, pela habilidade individual de nossos atletas, e em novas e diferentes modalidades, graças à abnegação e ao talento de atletas que dividem a atividade esportiva com trabalho para conseguirem sobreviver.
Se a falta de planejamento, a desorganização dos calendários, a falta de renovação e de espírito criativo da maioria das lideranças esportivas tornam difícil a vida dos atletas, a situação, nos últimos anos, agravou-se com o aparelhamento do Estado por partidos políticos e as evidências de corrupção com o desvio de dinheiro público. E se o Brasil está entre as principais potências esportivas apesar de todas essas mazelas, imaginem se tivéssemos um projeto esportivo, com calendários, recursos, campos especializados de treinamento, maior apoio oficial e do setor privado e melhor utilização dos recursos vindos das loterias para as especialidades em que o País tem realmente chance de se destacar.
Espera-se que o novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, possa desmontar os esquemas de apropriação indébita de recursos públicos pelo PC do B. A seriedade e a honestidade do ministro são conhecidas, mas também terá de demonstrar eficiência e competência, quatro qualidades não facilmente encontradas hoje nas lideranças esportivas do nosso país.
O acompanhamento das obras de construção dos estádios para a Copa do Mundo e da gestão financeira dos recursos governamentais alocados para esse fim será uma das prioridades do novo ministro. Os preparativos para os Jogos Olímpicos, tanto da infraestrutura física quanto da seleção dos representantes brasileiros, demandarão atenção especial do Ministério do Esporte.
O desempenho fraco da representação brasileira nos Jogos Pan-Americanos é um sinal de alerta. Ainda há tempo para o planejamento e o desenvolvimento de um programa de apoio efetivo para preparar atletas para os Jogos Olímpicos de 2016.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 08/11/2011
No Comment! Be the first one.