Recentemente foi divulgado algo inédito na crônica administrativa do país envolvendo atos indicativos de corrupção e tráfico de influência. A singularidade reside no envolvimento de chefe do escritório de representação da Presidência da República em São Paulo, e também do número 2 da Advocacia-Geral da União. Em consequência, 18 pessoas foram detidas. O fato é de tal gravidade, que só recorrendo a um lugar-comum para conferir-lhe a adequada intensidade, dizendo que “é muito grave”! Não foi sem motivo que a senhora presidente da República afastou, demitiu e determinou investigações.
Pelo menos algumas das pessoas agora identificadas, pelas alturas burocráticas que ocupavam, só as tinham pela confiança que gozavam do ex-presidente. Só quem desfrutasse de absoluta confiança poderia ocupar patamares superiores da administração e praticar atos como os que foram revelados.
Ocorre que, dia a dia, fatos e mais fatos surgiram, todos a envolver altos servidores, sem que nenhuma das autoridades mencionadas articulasse qualquer impugnação quanto à sua veracidade. É tanto mais significativo o silêncio quando a chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo, ao mesmo tempo em que era afastada do cargo que ocupava desde a presidência anterior, declarou, sem meias palavras, e a imprensa publicou, a partir da primeira página, que “não cairia só”, o que, é de convir-se, era um desafio claro e inequívoco; ninguém pode dizer que não entendeu.
Virando a página, a oposição anunciou convocar alguém para falar a respeito desses fatos, e foi um deus nos acuda; por exclusão, a escolha recaiu no ilustre ministro da Justiça. Em verdade, porém, a ideia fixa era impedir a convocação de quem quer que fosse, a menos que fosse mudo. Ora, não é preciso ser nenhum gênio para, na soma de todos esses dados, não concluir que coisas da maior gravidade tinham de ser abafadas, sepultadas. Enquanto isto, ninguém falou no desafio da exonerada ao assoalhar que não cairia só. O silêncio foi geral e total, como o das tumbas e das múmias.
Fatos graves aconteceram no escritório da Presidência da República em São Paulo. Dir-se-á que a situação vem do tempo do ex-presidente Luiz Inácio, mas desde que a senhora presidente não a extirpou em quase dois anos, quando podia fazê-lo, seja qual for ou tenha sido a causa da omissão, o fato é que não escapa de um vínculo inevitável, e não pode escusar-se do ônus que lhe cabe, sendo de lembrar-se que a primeira magistrada deve ter uma conduta branca como a neve, ou transparente como o cristal.
Mas o pior ainda estava por acontecer. Fatos novos vêm sendo divulgados, comentados e analisados por jornalistas de alto conceito, e o silêncio oficial continua, ainda que os fatos, sempre os fatos, cuja promiscuidade lembra os desvarios na decadência do império romano.
Afastando apontar conclusões, insisto em ficar nos fatos, e se é verdade que a senhora presidente não mostra particular simpatia pela chefe do escritório da Presidência em São Paulo, já o mesmo não se pode dizer a respeito do ex-presidente, que deu demonstrações do apreço que tem pela secretária Rosemary, ou Rose, para os íntimos, dado que foi graças a solicitação dele que ela foi mantida pela senhora presidente. E mais, a agora demitida o acompanhou em caravanas presidenciais ao Exterior, sendo portadora de passaporte diplomático, emitido pelo Itamaraty.
Esses dados são realçados, uma vez que pessoas hoje detidas foram nomeadas a instâncias da chefe do escritório paulista, a exemplo de seu ex-marido e de uma filha. Mas há aí um pormenor: é que, segundo agora foi divulgado, o ex-marido carecia de um título de nível superior, o que não foi dificuldade, porque um diploma frio (fato publicado na primeira página da “Folha de S. Paulo” de 30 de novembro) não custou a ser providenciado e autenticado pelo MEC. Esses fatos teriam de ser explicados, menos à oposição do que à nação brasileira. Não é pedir muito.
Fonte: Zero Hora, 03/12/2012
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