Imaginar Steve Jobs segurando um Iphone e atrás dele visualizar figuras como Renan Calheiros. Esse é o desafio que cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Carlos de Melo, propõe a seus alunos para ilustrar a incompatibilidade entre a política nacional e a sociedade atual. Em entrevista exclusiva ao Instituto Millenium, Melo aponta o respeito aos valores éticos e a compreensão da sociedade atual como os principais desafios das lideranças políticas no século XXI.
Nessa conversa, ele alerta para o anacronismo da política nacional e explica que ela deve ser a síntese de uma sociedade, estando na vanguarda e conduzindo os cidadãos. Para Melo, vivemos uma crise política agravada pela falta de figuras públicas em que os jovens possam se espelhar. “Será que as instituições norte-americanas teriam a qualidade que elas têm se não tivessem existido George Washington, Thomas Jefferson e Abraham Lincoln?”.
Instituto Millenium: Qual é o perfil da nova geração de líderes brasileiros?
Carlos de Melo: Há uma crise de liderança política no Brasil. Os líderes não são exatamente líderes. Em primeiro lugar, é preciso distinguir poder e liderança. O sujeito pode ter poder e não ser um líder. O poder é o controle de meios muitos explícitos. Enquanto que a liderança é uma adesão, uma concordância ao líder. O líder não deixa de ter um certo carisma. Temos mania de achar que o carisma é um mal porque o confundimos com populismo. Se diz muito que tanto Fernando Henrique Cardoso quanto o Lula são figuras absolutamente sedutoras. É necessário que eles tenham essa característica de saber seduzir, persuadir, mais do que simplesmente ter o controle do Diário Oficial e da folha de pagamentos. Em muitos casos, o que tem acontecido hoje é uma confusão entre liderança e poder. Algumas pessoas julgam-se líderes por terem o poder e não o são. Estamos chamando de líderes pessoas simplesmente poderosas, que alcançaram o poder sem exercer a liderança.
Quando a gente olha para a liderança política brasileira, vemos muito mais pessoas que tem o poder, mas não têm liderança. Elas não têm capacidade de se fazer seguir. Normalmente são levadas pelo senso comum e não conseguem colocar questões novas, diferentes e criativas. Esse é um grande problema para o que chamo de crise de liderança política. Por mais que o Jack Welch e Lee Iacocca tenham sido grandes líderes empresariais, nunca vamos poder afirmar que a dramaticidade das suas decisões possam ser comparadas com as de Churchill e Roosevelt.
Há uma escassez muito grande de pessoas com capacidade de persuasão e de sedução em torno de ideias, de projetos e de uma perspectiva de futuro e de mudanças. Não se trata do bonitão por quem todo mundo se encanta, mas do cara que tem ideias e que aponta caminhos novos. Abraham Lincoln era um sujeito feiosíssimo e, no entanto, tinha uma capacidade de encantamento e persuasão extraordinária.
Imil: Ainda vemos casos de médicos, empresários e advogados negligentes. O que falta para formarmos profissionais mais comprometidos com os valores éticos de suas respectivas profissões?
Carlos de Melo: Em primeiro lugar não podemos imaginar que as escolas possam substituir as famílias. O sujeito aprende os valores éticos com os pais. Sou professor há vários anos e formei muita gente, acho que essa é uma confusão que a gente não pode cometer. A escola, por sua vez, tem obrigação de insistir e alertar os alunos em relação aos valores éticos. Ela precisa provar que a escolha correta é melhor coletivamente. Mas isso deve se somar ao esforço das famílias.
Na política também é necessário ter exemplos morais, não se trata de ter moralistas. É necessário que se reconheçam pessoas que fazem as coisas certas como modelos para a política e para a sociedade. O malandro não pode ser o nosso modelo. É preciso ir contra essa corrente de que a esperteza, a malandragem e o jeitinho são mais vantajosos do que o correto. A vantagem individual pode gerar um desastre coletivo. Tanto o Renan Calheiros quanto o Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha não são exemplos de sagacidade, porque a política sempre teve essa coisa do líder sagaz e sensitivo. Ulisses Guimarães e Tancredo Neves eram extremamente sagazes. Hoje, não estamos falando de sagacidade mas de fisiologismo. Estamos falando de tirar proveito de relações políticas para interesses individuais ou de grupos. Isso é um mau exemplo.
Eu costumo fazer a seguinte brincadeira em sala de aula. Peço para os meus alunos mentalizarem a imagem do Steve Jobs com o Iphone na mão e atrás dele o Renan Calheiros e o Henrique Eduardo Alves. Depois pergunto o que eles têm a ver com essa nova sociedade cujo Iphone é um símbolo. A resposta é nenhuma. Ou seja, há um abismo brutal entre sociedade e política. Enquanto a sociedade foi para um lado, a política ficou paralisada, na melhor das hipóteses, ou regrediu. Esses nomes que estão no Congresso representam uma sociedade arcaica que não tem nada a ver com a nova. Isso é um grande problema. Por definição, a política precisa ser a síntese de uma sociedade e não estar atrás dela. A política tem que ser vanguarda. No Brasil sempre tivemos um conflito entre a vanguarda e o atraso. Hoje em dia não há mais esse conflito. Ninguém reconhece a vanguarda na política; ela se retirou. Até agora não foi provado que haja, de fato, uma nova geração de líderes.
Imil: Existe uma postura mais madura e comprometida nos jovens de hoje?
Carlos de Melo: Em virtude de uma série de fatores a adolescência está se prolongando por muito mais tempo; demorado cada vez mais para assumir a idade adulta, a maturidade e a responsabilidade. O universo das novas tecnologias tem mudado a postura dos jovens. Ele dá mais recursos, mas também os compromete em termos de atenção e dedicação. É muito difícil afirmar que houve uma melhora. Cada geração tem as suas características. Os jovens de hoje têm características muito específicas, mas isso não os torna nem melhores e nem piores do que a anterior. Não os vejo assumindo mais responsabilidades e, sob esse aspecto, ela tem características muito parecidas com as gerações anteriores.
Imil: Qual é o principal desafio dos líderes do século XXI?
Carlos de Melo: O desafio dos líderes é entender essa nova sociedade e saber para onde o mundo está indo em vez de ficar discutindo demandas corporativas ou interesses de grupos, como os cargos do governo. A política tem que ser algo muito maior do que isso. Quem é o político que discute essa nova sociedade? Os líderes precisam resgatar a grande política, a que conduz a sociedade. É preciso fazer com quem as pessoas encarem este desafio.
Imil: Em uma entrevista recente, o senhor citou o livro “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, para falar da presença do desleixo na formação da “alma brasileira”. Em que medida essa característica está presente na postura dos líderes nacionais?
Carlos de Melo: Na verdade, há um grande improviso de tudo. Não se busca fazer nada como dever ser feito. Existe algo mais nacional do que a gambiarra, do que essa improvisação? Nós chamamos isso de criatividade, mas é um grande problema quando criatividade significa um rebaixamento daquilo que é necessário fazer. A frase do Sérgio Buarque de Holanda diz o seguinte “não é falta de energia, não é falta de capacidade, mas a íntima convicção de que não vale a pena”. Ao invés de resolvermos questões como a burocracia, simplificando e buscando o que é tecnicamente melhor, a gente não faz bem feito. Isso pode significar tanto uma grande perda de produtividade, quando falamos de empresas, e uma grande tragédia quando se trata da segurança das pessoas.
A expressão “jeitinho brasileiro” é absolutamente ambígua porque tanto pode significar alguma coisa grandiosa do ponto de vista da criatividade, como pode significar a esperteza e o mal coletivo em busca da vantagem individual. Temos que diferenciar o que é desleixo e esperteza gananciosa do que é criatividade e capacidade de adaptação.
Imil: O que ainda falta para que o Brasil alcance o nível de formação de líderes dos países desenvolvidos?
Carlos de Melo: Quando a gente fala dos países desenvolvidos, é claro que os EUA vêm a nossa cabeça. As instituições norte-americanas funcionam. Será que as instituições norte-americanas teriam a qualidade que elas têm se não tivessem existido uma George Washington, Thomas Jefferson, Abraham Lincoln, Theodore Roosevelt, Franklin D. Roosevelt?
Será que as instituições europeias teriam o grau de preocupação que têm se não tivessem passado por lá figuras como De Gaulle, Konrad Adenauer, Felipe González, François Mitterrand e Margaret Thatcher? Então, para formar líderes é preciso ter exemplos em que os jovens possam se espelhar. Mas vivemos uma crise de liderança. E crise é justamente o momento em que a gente não consegue compreender por onde sair. A situação é mais ou menos como um minotauro em um labirinto. É exasperador e não te mostra saída. A gente tem que afastar o animal e encontrar a saída desse labirinto.
Steve Jobs não é exatamente um modelo de boa liderança veja o filme piratas do vale do silício para entender. Em diversos momentos ele foi eficiente e criativo mas não é exatamente um modelo de liderança. Na verdade ele precisou ser liderado principalmente na juventude a ficha só caiu depois que ele voltou a apple onde amadureceu mais. Precisamos de pessoas criativas e eficientes muito mais do que lideres caqueticos. Entretanto, com relação a liderança precisamos mudar o sistema a forma de governar atualmente no Brasil (“República Figurativa”)não está funcionando para as necessidades vigentes dos próximos anos =D
Raramente vejo entrevistas tão boas com informações precisas e sem lero-lero, aliás ultimamente é difícil encontrar sites com um material tão bom quanto o de vocês. Parabéns! Conheci esse site quando li A Revolta de Atlas e sempre volto porque sei que esse é um dos poucos sites no Brasil que tem uma visão objetivista.
Grandes líderes, aqueles capazes de mobilizar pessoas a fazerem o que realmente importa para nossa evolução como sociedade é disso que o Brasil precisa. Como dizia Simón Bolívar: Um povo ignorante é o instrumento cego da sua própria destruição. Sinto que entrevistas como essas não atinjam mais pessoas, que não as façam perceber como a política tem impacto direto na nossa vida e a importância de escolher políticos comprometidos com a mudança e não com a malandragem.
Há também confusão entre aqueles que têm característica de liderança não precisam estar no poder para liderar economia das cidades e sabem, eu não diria seduzir nem persuadir mais hipnotizar a maioria da população com suas idéias e projetos supostamente publicas, esses lideres serve e safam da economia por onde estejam e atuam diretamente ou indiretamente a fins de proveitos próprios e daqueles que o permitem alcançar essa tal liderança ou poder. Estes são inúmeros atuando aqui na política brasileira.
“Imil: … O que falta para formarmos profissionais mais comprometidos com os valores éticos de suas respectivas profissões?”
“Carlos de Melo: Em primeiro lugar não podemos imaginar que as escolas possam substituir as famílias”
Na Suíça sim existe este poder.
Durante o período escolar obrigatório, o Diretor das escolas da região, substitui a família em caso de negligencia ou incompetência da família em relação à educação dos menores neste período.
Também pode ocorrer que esta solução seja como uma navalha que pode cortar dos dois lados: No caso de um Diretor escolar que falha também, ou seja, incompetente, as crianças sucumbem pelas escolhas de profissões técnicas escolhidas pela facilidade e não pela competência, simplesmente são dirigidas por uma escolaridade muito inferior como: “um terminal opção”, ou seja, não beneficiam de uma escolaridade igualitária, mas mesmo assim chegam ao termino com um Aprendizado e Capacidade em mãos e estão prontos para enfrentar um trabalho e saírem da custodia da família e do Estado vivendo por conta própria.
Sem copiarmos as metas escolares Suíças, poderíamos incluir projetar semelhanças para ajudar nossos jovens que atualmente não estudam, não trabalham oisive inativo vivendo a custo do Estado como a maioria de nossos políticos atuais.
Ilva Bonvin
O problema Rodrigo Moglia é que muitas pessoas ainda acham que criatividade é tudo, quando na verdade em muitos casos o que precisamos são de pessoas com boa vontade para realizar e o Steve Jobs sabia disso. Ele entendia que para um produto chegar ao mercado precisava-se de muito trabalho, desenvolvimento e vontade de fazer bem feito, sem improviso. O que acontece com muito dos nossos jovens é que são extremamente criativos, mas não gostam de “colocar a mão na massa”. Tem uma cena muito interessante no filme do Facebook em que o reitor da Harvard diz aos jovens que vão reclamar que o Mark Zuckerberg roubou sua ideia, ele diz, mais ou menos assim: Vocês jovens de Harvard adoram criar o trabalho, mas não gostam de trabalhar. Criatividade é muito importante, mas sozinha, sem esforço é só mais um boa ideia na cabeça de alguém.
Excelente entrevista. Parabéns.
Devidamente compartilhada.
Faltou eu dizer que Felipe González nao deveria ser citado, nao combina com nenhum dos outros.
Caramba!, todo esse blá-blá-blá pra fazer uma crítica ao Renan e ao Henrique Alves?, o Lula é um exemplo de líder, o Fernando Henrique não, o Lula tem história de liderança desde quando entrou no sindicato, o Fernando Henrique é exemplo de oportunismo, algo muito diferente, será o quê que tem a ver um presidente da câmara dos representantes ou um presidente do senado americano com essa geração que tem iphone como símbolo?, nada né?, e o Steve Jobs foi líder de quê?, o cara não tem a mínima noção do que significa liderança, faz uma confusão danada, no final cita como ícones de liderança só pessoas da historia e ninguém da atualidade pra dizer que a crise de liderança é do Brasil, mas cadê os líderes atuais daqueles países?, a Margaret Thatcher não lidera mais nada, pelo que sei ela está demente (ou sempre foi, sei lá), Renan e Henrique Alves não são líderes, são oportunistas como Fernando Henrique, inclusive ambos tiveram posição de destaque no governo dele, é só pesquisar na internet.