“Ignorância é não saber de algo; estupidez é não admitir sua ignorância.” (Daniel Turov)
Há nos Estados Unidos uma série de livros que começam com o título “guia politicamente incorreto” e depois o assunto em questão. São diversos temas, como o aquecimento global, a Grande Depressão e a história da Constituição. A idéia é desmistificar certas abordagens fantasiosas dos fatos passados. Os mitos históricos acabam exercendo mais influência que os fatos em si, e resgatar a verdade – ou pelo menos lançar questionamentos sobre algumas “verdades” – passa a ser fundamental para uma compreensão mais acurada dos eventos importantes, que acabam manipulados pela ditadura do “politicamente correto”.
Eis porque o livro do jornalista Leandro Narloch, Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, merece ser celebrado. Sem medo de mexer em tabus para os nacionalistas e de ir contra a visão “politicamente correta” ensinada nas escolas, Narloch resgata inúmeros fatos históricos ignorados pelo povo brasileiro em geral. Após tantas décadas de verdadeira lavagem cerebral por parte de professores e “intelectuais” marxistas, algumas obviedades relatadas no livro certamente poderão chocar o leitor mais desavisado. Entretanto, fugir dos fatos não ajuda. Afinal, como disse Aldous Huxley, os fatos não desaparecem porque são ignorados.
Um dos primeiros alvos de Narloch é a visão idílica dos nativos brasileiros, criada com base em Rousseau. Os índios ainda são vistos por muitos como aqueles “bons selvagens” idealizados pelo filósofo, e tão longe da realidade. Essa visão, de que os índios viviam em harmonia entre si e com a natureza, ainda produz crenças e políticas equivocadas. No fundo, os índios travavam guerras eternas entre eles, destruíam florestas, animais, pessoas e culturas. A mentalidade marxista de que os pobres índios eram explorados pelos brancos malvados, que ofereciam quinquilharias em troca de recursos preciosos, também não se sustenta. Para aqueles povos isolados da civilização por tanto tempo, que nem mesmo tinham a roda ainda, ter acesso a anzóis, machados e espelhos fazia muito mais sentido do que manter tanto pau-brasil sem utilidade clara. Além disso, vários índios quiseram se aculturar, ao contrário do que ensinam os professores. Eles viam com fascinação as novidades trazidas da Europa.
Por fim, o que Narloch mostra é que, além das doenças então desconhecidas trazidas involuntariamente pelos europeus, o grande responsável pelo extermínio de tantos índios foram os próprios índios. As tribos não se viam como esse grupo homogêneo chamado “índios”, criado pelos europeus depois, mas sim como inimigos das demais tribos, tão estrangeiras para eles como os próprios portugueses. Muitas tribos viram na chegada dos europeus uma oportunidade para aliança militar contra velhos inimigos. Essas são coisas que parecem bastante evidentes após um pouco de reflexão, mas que ofendem a versão “politicamente correta” tão disseminada pelo país.
Outro vespeiro que Narloch sacode é a questão da escravidão. Quando os marxistas resolveram reescrever a história com seu viés maniqueísta de luta de classes, não tinha como ser diferente: criou-se a imagem de brancos malvados de um lado, e negros oprimidos do outro. Mas a coisa não ocorreu bem assim. O hábito de atacar povos inimigos e vendê-los era comum na África há muito tempo. De fato, a escravidão era uma prática comum no mundo todo em quase todas as épocas, sem fazer distinção de cor. Os negros africanos foram os maiores traficantes de escravos negros. Além disso, ex-escravos que conseguiam a liberdade logo partiam para a aquisição de escravos próprios, símbolo de status na época. Zumbi dos Palmares, personagem que virou sinônimo da luta contra o racismo no país, tinha escravos também. O fim desta prática nefasta se deve basicamente ao poder das idéias iluministas, assim como ao movimento abolicionista inglês, calcado em bases ideológicas, e não econômicas, como os marxistas alegam. Os países africanos seriam os últimos a abolir a escravidão.
Após outros mitos nacionalistas derrubados, Narloch encerra o livro com o resgate dos fatos históricos sobre os comunistas, que sempre lutaram para implantar no país uma ditadura, enquanto hoje posam como bastiões da democracia. Narloch mostra como a Coluna Prestes não passava de um bando de vândalos e criminosos, que aproveitavam a ausência da polícia em determinadas áreas para espalhar o terror – algo análogo ao MST hoje. Inspirados no carniceiro Stalin, os seguidores de Carlos Prestes adotavam as práticas mais abjetas para tentar importar o regime totalitário ao país. Fracassaram por suas próprias trapalhadas, e outros guerrilheiros comunistas tentariam novamente um golpe na década de 1960, inspirados e financiados pelo ditador cubano Fidel Castro. Os integrantes desses grupos terroristas seriam os grandes responsáveis pela nossa ditadura, assim como por sua fase mais dura, representada pelo Ato Institucional número 5. O AI-5 só foi assinado em 1968, e antes disso os guerrilheiros praticaram dezenas de assaltos, execuções, seqüestros, atentados a bomba etc. Atualmente no poder, muitos desses comunistas se fazem de vítimas inocentes, como se estivessem lutando pela democracia nessa época. É “politicamente incorreto” falar a verdade sobre isso.
Em resumo, o livro de Narloch é um raio de luz em meio a tanta escuridão. Os brasileiros parecem ter perdido a capacidade de questionar, de alimentar o ceticismo e ir buscar os fatos de maneira mais imparcial e racional, sem tanta emoção. Aqui predomina o culto aos falsos heróis, uma postura nacionalista que mais parece uma xenofobia infantil, uma mentalidade anticapitalista desprovida de razão. O livro é dedicado à mãe do autor, porque ela o levou a “discutir idéias”. Eis justamente o que faz tanta falta nesse país: discutir idéias! Sem as amarras do “politicamente correto”, e sim com um desejo genuíno de buscar a verdade. Doa a quem doer.
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