A primeira chairwoman do Federal Reserve, Janet Yellen, não parece ter iniciado bem sua comunicação com o público. Na coletiva que deu à imprensa, na última reunião do Fomc (O “Copom” de lá), deu a entender que iniciaria o aumento de juros seis meses após o fim da retirada dos estímulos. Ou seja, ainda no primeiro semestre de 2015. Dada a reação do mercado, em discurso no dia 31 de março, em Chicago, teve de complementar sua comunicação, salientando que ainda percebe sinais dúbios vindos do mercado de trabalho. Desse modo, o aumento de juros é data dependence, isto é, vai depender da melhora efetiva da economia.
De fato, para quem analisou os comunicados divulgados após a reunião de 18 e 19 de março, e não se deteve à coletiva de imprensa, essa informação era bastante clara. O Fomc retirou, inclusive, o target de 6,5% de desemprego para iniciar a elevação de juros, algo que tinha interpretações díspares entre os agentes. Ressaltou que mesmo com desemprego e inflação próximos aos níveis perseguidos, as condições econômicas poderão manter as taxas de juros nos níveis atuais por algum tempo.
A despeito disso, questionada na coletiva de imprensa pós-reunião de março sobre o quanto “algum tempo” precisamente significava, deixou escapar os seis meses. Não é exclusividade dela, afinal. Seu antecessor, Ben Bernanke, cometeu equívoco semelhante em maio do ano passado, ao deixar escapar que o início do fim dos estímulos à economia estaria próximo de ocorrer. Janet Yellen parece ter apreendido a lição e tratou de corrigir a percepção majoritária do mercado no discurso em Chicago.
Há na literatura evidências, ainda que não consensuais, sobre o aumento de volatilidade no mercado financeiro derivado de coletivas à imprensa. Compreende-se. Na seção de “perguntas e respostas”, o presidente do Banco Central tem de dar uma afirmativa para as perguntas de jornalistas especializados. Não necessariamente, entretanto, sua resposta é coerente com as decisões do colegiado. Desse modo, fez bem Janet Yellen em retificar sua comunicação.
A decisão do Federal Reserve em iniciar o fim dos estímulos à economia norte-americana, que em algum momento levará ao aumento de juros, tem razão de ser. No gráfico abaixo é possível verificar alguns indicadores do mercado de trabalho. A taxa de participação, relação entre população economicamente ativa (PEA) e população em idade ativa (PIA), tem caído menos, o que indica alguma estabilidade nesse indicador. O desemprego, o desemprego de longo prazo (mais de 27 semanas desempregado) e os marginalmente ligados à PEA, que poderiam gerar demanda por trabalho a qualquer momento, também estão em queda. Esse conjunto de indicadores, bem como os riscos associados à manutenção de estímulos “heterodoxos” por tempo prolongado, foi decisivo para o início do desmonte da compra mensal de títulos.
Não significa, entretanto, que a elevação de juros ocorrerá tão logo os estímulos sejam completamente retirados (a cada reunião, US$ 10 bilhões em títulos deixam de ser comprados). O Banco Central avaliará a necessidade de manter a taxa básica de juros entre 0% e 0,25% durante algum tempo, dados os condicionantes da economia. Corrobora com isso, o fato de que a melhora da taxa de desemprego possa estar refletindo mais uma redução da procura por emprego do que propriamente aumento de vagas.
Uma melhora da economia norte-americana, nesse sentido, tem sinais ambíguos para o Brasil. Por um lado, tem efeitos positivos sobre nossa balança comercial, ao incentivar o aumento das exportações. Por outro, pode afugentar os investimentos estrangeiros no país, dado o aumento das taxas de juros longas nos EUA. Essas influenciadas pelo aumento da taxa básica de juros, tão logo a economia norte-americana mostre sinais inequívocos de retomada.
Em assim sendo, como temos cometidos equívocos de grande proporção nos últimos anos, a condução da política monetária norte-americana terá impactos relevantes sobre nossa economia. Nossa vulnerabilidade, ainda que não seja aquela relatada pelo próprio Federal Reserve, se elevou em alguns graus. Por nossa própria culpa: Janet Yellen nada tem a ver com isso, leitor.
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