O pré-candidato José Serra está numa sinuca de bico para afinar seu discurso de oposição. Após elevações praticamente ininterruptas do nível do emprego e da renda assalariada, marcando os oito anos de gestão Lula, fica difícil tentar contestar a avaliação positiva que a grande maioria dos eleitores faz do atual governo.
Na sua argúcia, o gênio político de Lula tenta atrair a oposição para o confronto que lhe interessa e onde é imbatível, na comparação entre os feitos da gestão FHC e a sua, cujo saldo positivo emprestará à campanha de Dilma.
Não há como contrariar a primazia dos oito anos de Lula, até pelo fato de ser ele o período mais recente, de memória mais viva para o público. Além disso, as gestões de FHC e Lula se deram numa sequência em que o último não interrompeu as políticas mais eficazes do primeiro.
Pelo contrário, absorveu-as e as reempacotou como suas, do qual o melhor exemplo é o Bolsa Escola, que virou Bolsa Família.
O discurso da oposição, se houver, tem que ser para a frente, nunca para trás. O futuro é o único ponto de vista que interessa ao eleitor. Na prática, o cidadão quererá mudar o menos possível daquilo que aparenta -e ele sente na pele- estar dando certo, não importando os motivos ou as possíveis consequências desse bem-estar.
É quase inevitável a sensação do “já perdeu” quando se ouve argumento oposicionista que tenta só cotejar números da gestão FHC com as de Lula. Cá entre nós, são situações incomparáveis. Dou três exemplos na economia. Primeiro, o comércio mundial, cujo valor em dólar cresceu mais lento nos anos FHC, numa média de 5% ao ano, mas explodiu na era Lula (8,5% ao ano), mesmo com o choque negativo de 2009.
Aqui não trabalho com projeções de 2010. Ou seja, a ajuda de fora foi descomunal no período Lula.
Mais ainda. Olhando o mercado interno, vemos a base do crédito sair da estagnação na era FHC para dar um salto histórico da ordem de 12,3% de crescimento anual (!) no período Lula. O crédito é a alavanca mais poderosa do consumo e da satisfação pessoal, que vincula o eleitor, queira ou não queira. Por último, para ficar só nos macroindicadores, comparem-se os juros, pelo patamar do encargo financeiro básico em cada período. A diferença é chocante a favor do atual governo.
Caiu de 14,6% para 7,7% de juro real, na média. E qual o resultado desse cotejo? A conclusão é paradoxal e politicamente incorretíssima. Lula ficou “devendo” mais PIB, ou seja, mais produção, do que FHC. Como? É pela intensidade dos fatores favoráveis de empuxo do período Lula.
Foram tamanhos os empurrões do comércio externo e do crédito na era Lula que cabe a pergunta de onde está o resto do PIB, além da diferença positiva do magro 1,2 ponto percentual a favor deste. Por modelos estatísticos de comparação, ficou faltando mais desempenho na diferença entre o PIB médio de 2,5% para FHC e o de cerca de 3,7% para Lula. Era para a expansão média do PIB brasileiro estar encostando em 5% ao ano. Quem comeu parte desse PIB certamente foram o alto custeio da máquina pública, a burocracia em excesso, a falta de investimentos (apesar do PAC) e o nenhum fomento à poupança. Falta um Brasil bem mais eficiente, e isso não é ideologia.
A candidata Dilma poderá até escolher não mexer em time que está ganhando. Ficará abaixo do potencial do país, mas poucos notarão. Mas a oposição só sairá do papel se olhar para a frente e convencer o eleitor de que há um futuro de sonho e prosperidade que a grande massa dos brasileiros jamais experimentou. E que esse Brasil ainda maior e mais generoso é possível.
Sem medo do futuro
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