Embalados pelo sonho de mais um título de futebol talvez seja impróprio tratar de um assunto onde o Brasil está sendo derrotado, no seu setor elétrico. Mas, como será possível notar quando o futebol sair das manchetes, o consumidor irá pressentir na sua majorada conta de luz que, nessa área, estamos levando de goleada.
No passado tínhamos uma das melhores posições entre os países que conseguem oferecer energia a um preço baixo. Em 1995, o Brasil tinha uma tarifa comparável a do Canadá e da Noruega, países campeões nesse setor. De lá até 2012, a nossa tarifa média residencial subiu 74% real. Hoje pagamos mais do dobro que um canadense. A tarifa industrial subiu 108%! O ano de 2012 é essencial para entender o que já vinha ocorrendo, quando, sob uma política inadequada, acabamos na situação atual. Entre aumentos de tarifas e aportes do tesouro (leia-se contribuintes), o rombo já se aproxima de R$ 60 bilhões.
O Brasil se diferencia da maioria dos sistemas pela sua capacidade de armazenar energia. Nos reservatórios construídos nas décadas de 70 e 80, o Brasil era capaz de guardar o equivalente a dois anos de consumo. A demanda cresceu e não há como fazer com que essa reserva siga o crescimento da carga. Hoje, conseguimos guardar apenas quatro meses. Não é necessário ser um especialista para entender que reservatórios podem se esvaziar porque os rios diminuem sua vazão, mas também porque a reserva é usada além da conta.
Se a reserva cai em relação à carga, é preciso agir com mais cautela não deixando que os reservatórios atinjam níveis baixos porque, agora, a “velocidade” de esvaziamento é maior. Só há um jeito de fazer com que se evite essa queda brusca. Construir mais usinas que gerem energia. De 2002 até setembro de 2012 as usinas térmicas contratadas nos leilões, vinham atendendo apenas 9% da carga. De repente, a partir de outubro, mais do que dobram sua produção, continuam assim até hoje e preparam uma inédita e salgada conta.
Em setembro de 2012 ocorria o anúncio da lei, que, intervindo nos preços cobrados pelas usinas da Eletrobras, proporcionaram uma redução de 20%, que agora praticamente se esvai. Seria uma mera coincidência? Como já tínhamos tarifas caras (não vamos esquecer os impostos), aguardou-se o anúncio da redução para poder usar as caras térmicas? Os dados hidrológicos, apesar de abaixo da média, não justificam o alarde de tragédia ambiental que permeou o discurso oficial. Se a reserva não acompanhava a demanda, precisávamos, ou paulatinamente ir complementado com outras fontes ou, no mínimo, promover uma política de eficiência energética que recuperasse os muitos kWh perdidos. Nada disso foi feito.
Hoje, o placar é totalmente desfavorável. Além de uma despesa extra que equivale a quatro usinas como as do rio Madeira, o tombo financeiro da Eletrobras mostra que nem com usinas vendendo energia por inéditos R$ 10/MWh conseguimos reverter esse jogo. Investidores estão arredios vendo as regras mudarem a todo o momento podendo inclusive se ver como a Eletrobras no futuro.
Ou se examina todo o sistema ou estaremos fora dessa copa.
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