*por Abel Reis
Vale divulgar o nome de uma fonte secreta de um jornalista para supostamente proteger uma nação? E as informações exigidas por sites e aplicativos, podemos cedê-las, priorizando a conveniência em vez do risco? E o prazer de compartilhar o nascimento e crescimento do filho nas redes sociais, é sensato e respeitoso? É delicada a balança contemporânea na qual tentamos equilibrar segurança e privacidade.
Dados ajudam a salvar vidas. A medicina, por exemplo, trabalha arduamente pela integração e gestão digital das informações de pacientes. Quanto mais informação disponível para comparar, monitorar e analisar, mais sucesso terá na descoberta da cura de doenças, na prevenção de epidemias e na formulação de políticas públicas efetivas. Quem já enfrentou uma enfermidade grave ou rara, vê na exposição da própria dor um santo remédio. Dá esperança e alento saber que seu histórico poderá melhorar o futuro.
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Violação da privacidade pode destruir. É icônico o caso da jornalista de Goiás cujo ex-namorado, por vingança, vazou fotos íntimas dela para e-mails e sites pornográficos ao longo de quatro anos. Ela perdeu o emprego e amigos, os filhos tiveram que mudar de escola e Rose Leonel acabou batizando o Projeto de Lei que criminaliza a exposição de imagens íntimas sem consentimento. Está em tramitação no Congresso Nacional.
No Reino Unido, a balança pesa cada vez mais no prato da segurança nacional. Em novembro de 2016, o país aprovou uma lei de vigilância digital que deu ao governo amplos poderes. Jocosamente ganhou o apelido de Carta do Snooper (xereta, em inglês). Estão autorizados a órgãos governamentais: vigilância online, pirataria de dispositivos, acesso a dados de usuários de internet e investigação de pessoas que estejam indiretamente relacionadas a alguém ou algo suspeito. Potencialmente, portanto, qualquer um pode ter a intimidade devassada, o celular exposto ou notebook vigiado.
Os provedores de internet também seriam obrigados a reter registros de navegação em sites e aplicativos por 12 meses, para o caso de o governo necessitar deles. Esse último item — por sinal, em vigência no Brasil — foi vetado, mas ainda rende luta na justiça. Poderá ser revertido a qualquer momento. Os britânicos que se opõem à lei temem que ela sirva de modelo para outros países — e a comparam a medidas praticadas por ditaduras.
O desafio, agora, é adequar a necessária oposição a abusos de poder ao cenário de corpos estirados na rua. Em seu discurso após o terceiro ato terrorista ocorrido no Reino Unido este ano, a primeira-ministra britânica, Theresa May, enfatizou que irá intensificar a atuação pela internet, para prever e conter ameaças. Cá para nós, temos lições nessa matéria. Inocente e morto pela Scotland Yard no metrô londrino, Jean Charles de Menezes é uma delas. Poderiam os dados (ou mais dados) ter ajudado a polícia a perseguir o suspeito correto? Seguro aqui é que ninguém sabe essa resposta. Mas precisamos buscá-la.
*CEO da Dentsu Aegis Network e CEO Isobar Latam
Fonte: Época negócios.
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