Editorial do “Estado de S. Paulo” comenta a vulnerabilidade da Coreia do Sul que é a 15a economia do mundo, porém vizinha da Coreia do Norte, fortemente armada, dominada pela ditadura comunista : “A ditadura de Pyongyang pode infligir mais danos à próspera democracia de Seul do que o contrário, salvo na hipótese impensável de uma nova guerra como a de 1950-53, com nova e igualmente impensável participação direta dos Estados Unidos – e da China”.
Leia o editorial na íntegra:
Seul, metrópole com mais de 10 milhões de habitantes e centro nervoso da 15.ª economia do mundo, fica apenas a 40 quilômetros da fronteira entre as duas Coreias – e dali o Norte aponta na sua direção centenas de mísseis capazes de atingi-la em minutos. Yeonpyeong, a ilha sul-coreana no Mar Amarelo atingida na terça-feira por mais de 100 obuses disparados pela artilharia do Norte, fica apenas a uma dezena de quilômetros de Incheon, no continente, onde se localiza o principal aeroporto da Coreia do Sul.
Eis dois símbolos da vulnerabilidade de um dos países mais dinâmicos do globo diante de seu vizinho que se notabiliza pela penúria medieval e o isolamento de seu povo, a militarização extrema do Estado e a dinastia comunista que o controla há seis décadas e que, por sua vez, depende do beneplácito da sua instituição mais poderosa – as Forças Armadas. Calcula-se que 40% da população ou já veste uniforme (1,2 milhão) ou pode ser rapidamente mobilizada (4,7 milhões).
Daí o paradoxo: a ditadura de Pyongyang pode infligir mais danos à próspera democracia de Seul do que o contrário, salvo na hipótese impensável de uma nova guerra como a de 1950-53, com nova e igualmente impensável participação direta dos Estados Unidos – e da China. Daquela vez, o Norte tinha levas de soldados treinados para se atirar contra as baionetas americanas. Agora, além disso, tem um modesto, porém suficiente, arsenal atômico (embora haja dúvidas sobre a sua capacidade de lançar alguma da dúzia de bombas que teria em estoque).
E daí a perplexidade: não se sabe como conter as provocações militares a que o Norte recorre para ser tratado como potência e não como pária e ainda como argumento em inescrutáveis disputas internas de poder. Desde o armistício de Panmunjom, foram mais de 30 as agressões cometidas. A que provocou mais vítimas foi a explosão, em 1987, de um jato da Korean Air Lines, com 115 pessoas a bordo. Pelo critério de baixas militares, o pior foi o torpedeamento da corveta sul-coreana Cheonan, em março, com a morte de seus 46 tripulantes.
Apesar das evidências levantadas por uma comissão internacional, Pyongyang nega o ataque – sem precedentes desde o armistício entre as duas partes, há 57 anos. Agora, o Norte alega que alvejou a Ilha de Yeonpyeong, com 1.200 moradores, matando dois soldados e ferindo 14 outros, além de 3 civis, em represália a disparos contra seu território. O governo de Seul reconheceu que o Exército fazia exercícios na área, mas disse que a artilharia mirava o mar. Seguiram-se as habituais ameaças recíprocas e a decisão de Washington de anunciar exercícios navais conjuntos com a Coreia do Sul.
Esta seria, segundo fontes americanas, a “primeira resposta” à escalada de Pyongyang. Apenas se pode especular sobre as outras – e sua efetividade. “A Coreia do Norte é o lugar das escolhas miseráveis”, diz Victor Cha, que integrou a equipe de segurança nacional do governo Bush e conhece os dilemas dos EUA na Península Coreana, ouvido pelo New York Times. O que havia a fazer em matéria de sanções econômicas, aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU, foi praticamente feito em 2009, depois de um novo teste nuclear norte-coreano.
Chamou a atenção, a propósito, o fato de, 11 dias antes do ataque a Yeonpyeong, a Coreia do Norte ter aberto a um cientista americano as portas do que seria uma grande usina de enriquecimento de urânio. Analistas supõem que os dois eventos fazem parte da apresentação ao mundo das credenciais de Kim Jong-un, o filho de 27 anos e herdeiro político do ditador Kim Jong-il. Pela obscura lógica do regime, a entronização de Jong-un deveria induzir os EUA a retomar o diálogo diplomático interrompido desde antes da eleição do presidente Barack Obama.
Indicaria, também, a crescente exasperação da Coreia do Norte com as restrições à venda de alimentos ao país, adotadas pelo presidente sul-coreano Lee Myung-bak depois do afundamento do Cheonan. Em Pyongyang, ao que parece, o dito romano “Si vis pacem, para bellum” tem um significado absolutamente peculiar.
Publicado em 25/11/2010
Muito fraco o artigo. Deu um exemplo (40% se tornam militares) e nada de falar do poderio do lado do sul. Por outro lado, como se mantém uma guerra sem o apoio econômico e financeiro?