*Letícia Porto Moreto
Quando um país enfrenta uma crise financeira e observa a desvalorização de sua moeda, um dos efeitos imediatos é a escalada da inflação. Em resposta, a medida mais comum adotada pelo Banco Central é o aumento da taxa de juros, com o objetivo de desestimular o consumo e a circulação do dinheiro na economia, buscando conter os danos e manter a inflação dentro da meta estabelecida. No entanto, a elevação dos juros tem se mostrado insuficiente para segurar a inflação no Brasil. Isso levanta uma questão crucial: quais seriam as alternativas para conter a alta dos preços? Além disso, quais os riscos de o país avançar para um cenário de dominância fiscal, no qual o aumento dos juros, em vez de controlar a inflação, acaba elevando o custo da dívida pública e aprofundando a instabilidade econômica?
A taxa de juros é vista por muitos economistas como uma solução paliativa, que pode perder sua eficácia caso não seja acompanhada de medidas mais estruturais de controle fiscal. Acreditar que a única ferramenta disponível para conter a inflação seja o ajuste da taxa de juros é um equívoco. A dominância fiscal não se limita ao ciclo de aumento e redução dos juros: trata-se de um problema mais amplo, no qual a política monetária se torna refém de um quadro fiscal deteriorado.
A conexão entre dominância fiscal e credibilidade econômica
A crise inflacionária atual não pode ser analisada isoladamente da situação fiscal do país. O economista Gustavo Franco, em seu artigo “7 erros que explicam o porquê da economia do país estar enfrentando déficit de credibilidade”, aponta que a falta de transparência fiscal e a ausência de reformas estruturais são fatores centrais para a perda de confiança dos investidores e o agravamento da crise econômica. O descontrole dos gastos públicos sem um planejamento eficiente compromete não apenas o equilíbrio das contas do governo, mas também reduz a eficácia das políticas monetárias. Nesse cenário, o Brasil pode se aproximar de um quadro de dominância fiscal, onde o próprio endividamento elevado torna a política monetária ineficaz no controle da inflação, uma vez que o aumento dos juros apenas encarece a dívida pública sem gerar os efeitos esperados sobre os preços.
Portanto, a solução para a crise inflacionária atual não está apenas na política de juros, mas principalmente em uma gestão fiscal responsável, que garanta previsibilidade econômica e credibilidade junto ao mercado. Medidas como controle eficiente dos gastos, aumento da transparência nas contas públicas e reformas estruturais são essenciais para evitar que o país entre em um ciclo vicioso, no qual o ajuste monetário se torna ineficaz e a inflação segue em alta, impactando diretamente o custo de vida da população e a capacidade de crescimento sustentável da economia brasileira.
Letícia Porto Moreto é associada trainee do IBEF Academy, possui formação técnica em Administração pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e é graduanda em Administração de Empresas pela FUCAPE Business School.