A Magazine Luíza contrata quem ela quiser pelo critério que quiser. Afinal, é exatamente para isso que existem a livre iniciativa e a propriedade privada. O que devemos combater são as ações afirmativas produzidas pelo governo, independentemente de quem está sendo beneficiado e quem seria prejudicado.
Criar oportunidades através do exercício da liberdade não é a mesma coisa que usar a coerção para discriminar e dar privilégios. Uma analogia para esse caso da Magazine é aquele do dono da confeitaria que se recusou a fornecer seus produtos para um casamento gay. Ele, no exercício de sua atividade, tem todo direito de trabalhar com e para quem ele quiser.
Isso não interrompe nem contraria a minha visão de que racismo é a mais baixa forma de coletivismo. Racismo aqui, compreendido como a aversão às características congênitas de alguém, seja a cor da pele, o gênero ou a opção ou orientação sexual, como quiserem. Se a Magazine Luíza quer dar mais oportunidades aos negros, sabendo que pode retirar do recrutamento indivíduos mais capazes, isso é problema privado da empresa.
Reservar 100% das oportunidades a um grupo com determinadas características é direito de qualquer um. Os que se opõem a essa iniciativa não estão querendo que o governo baixe uma lei dizendo quantos brancos a empresa deve contratar, estão?
Se há leis que a impedem de fazê-lo, essas leis são imorais e autoritárias por violarem uma série de direitos inalienáveis, como os direitos à liberdade e à propriedade, além de outros que são seus corolários, como o de discriminação e de livre associação. Tão ou mais imorais do que essas leis são as que determinam cotas de acesso privilegiado para determinados grupos por suas características dadas, como cor da pele, gênero e opção ou orientação sexual, e não por suas ações.
A discriminação feita pela Magazine Luíza baseia-se numa visão coletivista da sociedade típica dos imbecis que agem exclusivamente de acordo com o que percebem visualmente, sem aprofundarem-se numa análise baseada no que realmente convém aos seus interesses de longo prazo, como o caráter, o talento, as habilidades no trato com as coisas que lhe serão confiadas e com as pessoas que farão parte das suas relações sociais. A empresa tem todo o direito de discriminar e segregar dando oportunidade a quem ela quiser, na mesma medida em que seus clientes podem boicotá-la e condenar seus dirigentes ao ostracismo.
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O problema da Magazine Luíza não está no fato de terem privilegiado negros. Mesmo se tivessem privilegiado brancos, o critério seria o mesmo, superficial, à parte do potencial individual dos escolhidos e preteridos na busca pela discriminação e escolha mais adequada. O critério da cor da pele, do gênero ou outro qualquer que não se atenha às capacidades e ao potencial do indivíduo pelo que ele pode gerar de valor é um critério coletivista.
Governos não podem privilegiar ninguém porque estarão necessariamente violando direitos, da mesma forma que violarão direitos se quiserem proibir particulares de fazê-lo. Se você acha uma injustiça o que a Magazine fez, trate você do problema sem a interferência do governo. Se você quer justiça, tanto no caso das cotas legais quanto nesse promovido por uma empresa privada, peça ao governo para recuar e cair fora.
Quando eu escrevo sobre algo, estou me escorando sobre princípios. Isso significa que estou me baseando em valores universais atemporais, ou seja, valem para todos os casos a qualquer tempo, passado, presente ou futuro. Neste caso, escrevo claramente que um individuo ou grupo de indivíduos têm direito à livre associação, o que exige necessariamente fazer discriminação sob a orientação de algum critério que será adotado e aplicado baseado no direito à liberdade e à propriedade de quem está se associando.
Isso serve em qualquer caso, tanto para o proponente que oferece uma oportunidade, quanto para aqueles a quem a oportunidade se destina. Indivíduos têm o direito de serem racistas, ainda que isto seja, pelo menos para mim é, asqueroso, irracional e passível de rompimento de relações sociais.
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O pior é que as pessoas não apenas têm esse direito, elas são racistas e muitas não escondem seus sentimentos, infelizmente. Nos Estados Unidos, até pouco mais de 50 anos atrás, em alguns estados do Sul, racismo era política de governo. Negros eram impedidos de exercerem seus direitos individuais e muitos eram caçados como bichos, tanto por organizações particulares como pela própria polícia. Na tentativa de combater o preconceito e a violação de direitos, o governo federal resolveu adotar medidas compensatórias, chamadas de ações afirmativas, que por sua vez também se basearam na violação de direitos para privilegiar um grupo específico de acordo com sua característica racial, no caso os negros, em detrimento dos brancos, como se fosse uma retaliação contra as violências praticadas em sentido contrário.
Ações afirmativas promovidas pelo governo podem ter boas intenções, mas são tudo, menos justiça e combate ao racismo, sendo apenas a sua perenização. A mesma coisa vimos na perseguição aos judeus e outras minorias ocorrida há pouco tempo na Alemanha, pouco mais de 70 anos, onde e quando preconceito, estereótipos, irracionalidade e extermínio foram transformados em lei por um governo eleito naquela que era tida como a mais culta das sociedades europeias.
A mentalidade coletivista permite que as pessoas pensem que negros são inferiores e por isso preferem se associar aos brancos. No entanto, há os que são mais exigentes, aqueles que imaginam que ser branco é necessário, mas não é suficiente. Afinal, entre os brancos há grupos de indivíduos indesejáveis, como, por exemplo, os judeus. Judeus servem de bode expiatório em diversas situações. Há os que acusam os judeus de marxistas, há os que acusam os judeus de globalistas e há também os que acusam os judeus de capitalistas. Enfim, não importa se são marxistas, globalistas ou capitalistas – o que é comum na visão de um racista, é que ali há antes de qualquer outra coisa um judeu.
Evoluir como ser humano é deixar para trás a mentalidade coletivista, tribal, xenófoba, racista. Uma sociedade civilizada tem como fundamento ético o individualismo e, como característica das relações sociais, a privacidade.
Individualismo e privacidade só são possíveis entre seres que reconhecem a virtude da racionalidade e conseguem usar a faculdade da razão com foco para guiar suas ações.
O ser humano é associativo e isso é prova de que somos indivíduos antes de sermos membros de uma tribo, ou de um coletivo qualquer. Como indivíduos, temos o direito de nos associarmos com quem quisermos, seja em matrimônio ou em cooperação social para a criação de valor material, intelectual ou espiritual. Não cabe ao governo legislar, nem para favorecer com privilégios, nem para desmerecer com punições quem quer discriminar.
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Agora, no ambiente privado, cada um age como achar melhor desde que não viole os direitos dos outros. No caso presente, ninguém tem direito sobre a vaga oferecida pela Magazine Luíza. Ela dá a vaga para quem lhe interessar, pelo motivo que quiser. Usar sua liberdade e propriedade para se associar com quem bem entender, de acordo com o seu próprio julgamento, baseado nos critérios que quiser, é uma prerrogativa individual e ninguém tem o direito de impedir que isso seja feito.
Repito para que não reste dúvidas, eu tenho aversão ao coletivismo, e sim, considero o racismo a mais baixa forma de coletivismo. Quando alguém se pronunciar dizendo que uns são melhores que os outros por conta da cor da pele ou de outra característica herdada, que devem ter orgulho ou vergonha da sua natureza, apenas expõe a mente de um coletivista que não acredita no livre arbítrio, mas no determinismo.
Se os acionistas, a clientela ou a opinião pública não gostarem, basta reagirem privadamente, seja vendendo as ações se forem acionistas, pedindo demissão se forem funcionários, deixando de vender se forem fornecedores, deixando de comprar produtos se for um consumidor, ou xingando quem teve essa ideia infeliz se quiser mostrar a sua opinião ao público. De toda a sociedade, somente o governo não deve se manifestar nesses casos e muito menos fazer parte.
Fonte: “Instituto Liberal”, 23/9/2020
Foto: Reprodução