Jim O’Neill, o economista inglês que preside o Goldman Sachs Asset Management e ganhou notoriedade ao criar a sigla Brics, é um otimista – e nem mesmo a crise que bateu em cheio nos países da Zona do Euro é capaz de fazê-lo mudar de ideia.
Em entrevista publicada na edição de ontem do jornal “O Estado de S. Paulo”, O’Neill disse que a China tem força para contrabalançar a turbulência europeia e que o Brasil pode, se tomar as decisões corretas, tornar-se um país desenvolvido em duas décadas.
A entrevista foi motivada pelo novo livro do economista, que será lançado em dezembro e deverá ganhar uma edição em português no início de 2012. Ao lê-la, percebe-se a velocidade com que o Brasil deixou de ser visto como um azarão na corrida pelo desenvolvimento e passou a ser a ter “provavelmente a maior chance” de ser o primeiro dos Brics a deixar de ser um país de segunda classe no conjunto da economia mundial.
O próprio O’Neill admite o quanto ele e outros relutaram em incluir o Brasil ao lado da Rússia, da Índia e da China entre os líderes da economia no futuro. E ninguém se espante se um dia for finalmente admitido que a inclusão na lista no momento em que o conceito foi cunhado, mais de dez anos atrás, só se explicava pela importância do “B” – que deu à sigla uma sonoridade mais agradável e um sentido metafórico fundamental.
Bric, como se sabe, significa tijolo, em inglês. Seja como for, ele acertou na escolha e o Brasil, de fato, hoje aparece em qualquer lista como um país que tem tudo para avançar.
Todo cuidado é pouco diante das previsões de economistas. Lembro-me de um artigo “bem fundamentado” publicado ainda nos anos 1990 numa revista do instituto Konrad-Adenauer. Não me lembro do nome do autor, um economista alemão que fazia previsões apocalípticas sobre o futuro da economia do planeta.
O leste europeu (Rússia inclusive), segundo ele, se tornaria mero produtor de artigos industriais básicos e de alimentos para o ocidente. A Ásia (China inclusive) se limitaria a ser o coração da manufatura mundial. A Europa Ocidental e os Estados Unidos permaneceriam na liderança de tudo, a América Latina (o Brasil sequer era mencionado) mal daria conta da própria subsistência.
A África estava condenada a viver da caridade internacional. Com exceção da vocação asiática para a indústria, que já estava delineada àquela altura, ele errou todo o resto – inclusive ao não mencionar a importância do oriente como centro financeiro e de serviços. São justamente exemplos como esse que deixam qualquer pessoa de juízo desconfiada das previsões dos economistas.
A diferença de O’Neill para outros é que ele acrescenta um elemento imponderável em suas análises: o otimismo, claro. Em compensação, ele condiciona sua previsão de desenvolvimento a medidas que, se forem adotadas no presente, poderão ter um forte impacto no futuro. Segundo ele, o desenvolvimento só virá mediante o fortalecimento da economia privada e investimentos em inovação. Perfeito.
E que o Real só terá lugar no SDR (“direito especial de saques”, da sigla em inglês, a cesta de moedas que serve como base para os cálculos do FMI) se a inflação for mantida sob controle. Sob tais condições, a previsão tem tudo para dar certo. Tudo mesmo.
Fonte: Brasil Econômico, 28/11/2011
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