Há cerca de um ano escrevi um artigo no Ordem Livre sobre o caminho errado que a Inglaterra e outros países estavam seguindo consensualmente. O receituário adotado durante a recente crise econômica foi de aumentar gastos públicos como forma de mitigar os efeitos da recessão e salvar empresas e bancos que estavam com problemas. O Brasil não ficou de fora disso já que bancos pequenos foram engolidos e empresas afetadas, como a Sadia, receberam generosos recursos do BNDES para a fusão com a Perdigão.
Podemos chamar assim do Consenso da Gastança, ou Consenso de Londres (pós-reunião do G-20 em Londres, março de 2009), que substituiu o que pregava austeridade fiscal pela intervenção pesada do governo para comprar o caminho de saída da crise. Até Washington entrou nessa farra, por sinal, bipartidária. Tanto o governo Bush aprovou o salvamento de bancos e de empresas de veículos, quanto o governo Obama continuou o aumento de dívida americana com o seu pacote de estímulo econômico.
Na Europa, o líder de abrir as torneiras do gasto público como forma de estímulo econômico foi o primeiro-ministro inglês Gordon Brown. Ele comandou a economia durante o bem sucedido governo Tony Blair e chegou a dizer que tinha acabado com a época do “boom and bust” na economia Inglesa. Na sua receita de estabilidade, foi o primeiro país recente a salvar um banco grande, o Northern Rock, em 2007. Pela sua falta de pejo em usar dinheiro público na crise, foi saudado por Paul Krugman como possível salvador da economia mundial. Durante encontro do G-20, Gordon Brown anunciou nada mais nada menos do que a “nova ordem mundial” financeira. A crise teria fim com um pacote de US$ 1.1 trilhão de dólares a ser torrado pelos governos.
E o que aconteceu durante este um ano, em que as propostas de Brown foram colocadas para funcionar em vários países? Os governos que mais gastaram na Europa estão a beira do colapso. Grécia não se sustenta e teve que assinar um pacote de 110 bilhões de euros para rolar dívida. A contrapartida é… cortar gastos! A Espanha do governo socialista de Zapatero, outra que está vivendo no cheque-especial, anunciou também corte de gastos, incluindo de 5% no salário de funcionalismo público. E os patrícios portugueses já aprovaram também corte de gastos (incluindo salários de funcionários) e aumento de impostos para equilibrar o orçamento. O problema desses países não é estar preso numa moeda em que não podem desvalorizar (o euro), pois a Inglaterra manteve a sua libra e enfrenta os mesmos problemas, mas sim seguir o consenso errado.
Ainda no artigo de um ano atrás, lembrava que, apesar da cantilena uníssona da defesa de mais gastos do governo, havia políticos sérios e que alertavam para o risco da dívida pública criar outro problema. E citava o inglês David Cameron. O artigo foi publicado no dia 5 de maio de 2009. Um ano e um dia depois, os ingleses foram às urnas e apoiaram as propostas de Cameron, que para governar de forma segura fez uma aliança com os liberais-democratas. E, entre as primeiras medidas, estava lá: corte de gastos, incluindo salário de funcionários públicos.
Paul Krugman perguntava (sugerindo…) se Gordon Brown tinha salvo a economia mundial em outubro de 2008 num artigo intitulado nada menos que “Gordon faz o certo”. Pouco mais de um ano depois, ficou provado que Gordon Brown não salvou nem o seu emprego. E assim já perceberam os outros líderes europeus.
(Publicado em “OrdemLivre.org“)
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