A tímida comemoração dos 36 anos do PT reflete a maior crise pela qual passa a legenda. Além de sua imagem ter sido seriamente atingida com o escândalo do petróleo, ao qual se soma o cenário econômico adverso – pesquisas apontam que o PT, antes visto como “o partido dos pobres”, é caracterizado por uma grande parcela do eleitorado como “o partido da corrupção” –, também a imagem da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula está deteriorada.
Ainda que tenha perdido força no fim do ano passado, o fantasma do impeachment continua rondando o Palácio do Planalto. Com a economia em recessão e a Operação Lava-Jato em funcionamento, a possibilidade de a presidente conseguir melhorar sua popularidade e retomar a iniciativa política é pequena no curto prazo.
Para agravar esse quadro, a imagem de Lula, a maior liderança política do PT e pré-candidato a presidente em 2018, ficou ainda mais arranhada com a recente decisão do juiz Sérgio Moro de autorizar a Polícia Federal a investigar o sítio usado pelo ex-presidente em Atibaia (SP).
Ou seja, como o desgaste de Lula tende a continuar na pauta, diminui a possibilidade de ele conseguir mobilizar as bases petistas em favor do governo Dilma Rousseff. Aliás, hoje Lula está muito mais preocupado em recuperar a própria imagem do que atuar em favor do governo.
Não bastassem esses problemas, há debates internos no PT sobre a criação de um novo partido. Segundo informação divulgada pelo “Painel” da Folha de S.Paulo, as discussões envolvem cerca de 25 parlamentares. A ideia do grupo é retomar as conversas após as eleições municipais deste ano. A grave crise vivida pelo PT indica que o partido deve colher nas urnas, em outubro, a maior derrota eleitoral de sua história.
Mesmo que 2018 ainda esteja distante, as dificuldades que a presidente Dilma terá de enfrentar para reverter a atual crise, o desgaste de Lula – que poderá até mesmo implodir o projeto do PT de lançá-lo novamente numa eleição presidencial – e a falta de novas lideranças com projeção nacional mostram que o PT defrontará obstáculos quase intransponíveis para recuperar-se politicamente. A recuperação da legenda implicará em uma autocrítica para o qual ainda não está preparado.
A combinação de fracasso econômico e crise ética implodiu a narrativa do partido. Para piorar, a agenda de reformas do governo trafega contra as aspirações do partido que está como o cachorro que caiu do caminhão de mudança: não sabe para onde ir nem tem uma casa para voltar.
Fonte: “O Globo”, 18 de fevereiro de 2016.
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