Cada movimento feito em Brasília chama um pouco mais de atenção para um aspecto especialmente surrealista da política brasileira. Em qualquer outro ponto do planeta, como é natural que seja, oposição é oposição e situação é situação.
A primeira cumpre o papel de mostrar ao eleitorado o que faria de diferente se estivesse no poder. A outra defende com unhas e dentes as posições em nome das quais foi eleita. É assim desde que a democracia existe.
Diante do risco de falência do país, o Parlamento grego aprovou anteontem um pacote duríssimo de ajustes que inclui corte de gastos e aumento de impostos. Foi uma vitória apertada (155 votos entre 300 deputados).
Os debates foram acalorados e a opinião pública grega mostrava-se nitidamente contrária aos cortes. Neles, representantes do governo defenderam o governo, enquanto a oposição cumpriu o papel de atacar. Antes que o leitor perceba nessa frase a influência do Conselheiro Acácio, é bom deixar claro que, entre nós, o cenário é mais confuso.
O Brasil – sobretudo na atual legislatura – tem sido palco de um movimento estranho nesse jogo. Enquanto a oposição revela uma incapacidade que se confunde com a falta de apetite para incomodar o governo, a assim chamada “base aliada” não se cansa de criar constrangimentos para o Planalto.
Não custa lembrar que foram os ditos amigos que sacudiram a árvore até que o então ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci caísse de maduro. E agora, mais uma vez, foram os amigos, e não os adversários, que ameaçaram boicotar o esforço fiscal do Planalto caso o governo não abrisse a mão e liberasse dinheiro para emendas do interesse de suas excelências. O que acabou acontecendo ontem.
Diga-se em favor de suas excelências que essa verba estava prevista no Orçamento de 2009 (feito, como se sabe, como parte do esforço do governo Lula para eleger sua sucessora). Mas também deve ser dito que nenhum deputado da “base aliada” tem se mostrado disposto a abrir mão de gastos que o beneficie – e que o movimento em favor do ajuste fiscal que aceita fazer é o da criação de novos tributos.
O valor que o governo prometeu ontem (R$ 4,8 bilhões) equivale a quase 10% dos R$ 50 bilhões que o Ministério da Fazenda pretendia cortar no Orçamento como parte do esforço de combate à inflação.
Na prática, naquilo que diz respeito ao impacto dos gastos públicos sobre a economia, não interessa se as despesas são feitas com base no Orçamento de 2009, de 2010 ou de 2011. O que interessa é que o dinheiro sai do caixa oficial. Ponto final.
Os senhores deputados, como dizia aquele velho personagem de Chico Anysio, parece que estão “se lixando” para os problemas estruturais do país. Desta vez, se o governo não lhes desse o que desejavam, eles teriam sido capazes de votar projetos dispendiosos que obrigariam a presidente Dilma Rousseff a ter o desgaste de vetá-los – ou, então, ver a inflação fugir ao controle.
Aliados que criam problemas dessa natureza somados a adversários que nunca incomodam são, talvez, a mais estranha contribuição brasileira à política. Em todos os tempos.
Fonte: Brasil Econômico, 01/07/2011
Caro amigo, com este tipo de comportamento político, só resta uma solução aos Brasileiros, nas próximas eleições votar na terceira via para que não tenhamos um governo tão comprometido e inviável.