Foi pouco depois de aprender que os caramelos eram doces e o fogo queimava que me dei conta de que aos cubanos não era permitida a inscrição nas organizações criadas pelo governo, e também castigados exemplarmente se decidíamos criar nossos próprios grupos. Assim, os meninos entravam automaticamente na união dos pioneiros, as mulheres convertiam-se em federadas depois dos 14 anos, os vizinhos integravam os comitês de defesa da revolução, enquanto os trabalhadores eram parte do único sindicato autorizado no país. Por seu lado, os estudantes se aglomeravam num só agrupamento em nível nacional. Todos apareciam como filiados a algo.
Cada vez que alguém ia solicitar um posto de trabalho, um curso universitário ou pretendia obter o direito de comprar um eletrodoméstico, devia preencher formulários onde era perguntada a participação nas organizações consagradas ao poder, começando – no início – pelas mais importantes: o Partido Comunista e a União de Jovens Comunistas. Agora me parece risível lembrar-me com um lápis na mão marcando cruzinhas ao lado das siglas OPJM, CDR ou FMC. Fazia-o automaticamente, sem convicção, no intuito de fazer crer que era uma cidadã integrada, revolucionária e “normal”.
Faz muitos anos que não repito uma palavra de ordem e que não pertenço a nenhuma das associações autorizadas do país. Quando me perguntam, digo que sou uma cidadã independente ou um elétron livre e que minha plataforma se limita a exigir a despenalização da discrepância. Porém sou consciente de que estamos muito longe de alcançar essas metas. Apesar das mudanças e aberturas prometidas, ainda é mal visto fazer críticas seja da gestão de um ministro ou do horário de aulas de uma escola e nem pensar que se pode fundar autonomamente um partido, nem sequer o inocente clube de amigos das salamandras.
Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto
Fonte: “Generación Y”
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