Às vésperas do início da temporada de chuvas e com a perspectiva de um surto de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, escombros do que foi o Rio Media Center (RMC), que funcionou durante a Olimpíada, na Cidade Nova, ao lado da sede da prefeitura e da Creche Paulo Niemeyer, que atende filhos de servidores, transformaram-se num risco iminente. Toneladas de ferro, alumínio e de outros tipos de material estão apodrecendo ao relento há dois meses, após o bota-abaixo do prédio que abrigou jornalistas do mundo inteiro. Segundo o infectologista Bruno Cruz Fonseca, o terreno, além de ser um criadouro de mosquitos, pode ser foco de outras doenças.
— Esse terreno (com escombros) é certamente um foco não só de dengue, zika e chicungunha, mas também de leptospirose e hepatite A. A água acumulada atrai ratos que podem transmitir a leptospirose. Se a água for contaminada com fezes de animais, também pode transmitir hepatite A. É preciso eliminar esse foco — afirmou.
O terreno abrange um quarteirão inteiro e tinha, além de faixas de interdição da Defesa Civil, trechos com grades. Elas foram derrubadas por catadores, como Daniel Pimentel, de 33 anos, que viu no local uma boa oportunidade de conseguir dinheiro. Até segunda-feira passada, ele já havia recolhido cerca de 170 quilos de ferro e 13 de alumínio. No início da semana, foi impedido pelo dono de um caminhão que apareceu no terreno se dizendo proprietário do entulho.
— Tenho uma filha de 10 meses que preciso alimentar. O cara se disse dono e eu respeitei. Fui proibido de catar ferro, que vai para o lixo. Ele me deixou catar apenas papel. Já levei 450 quilos. Hoje, mais uns 300 quilos. Compram por R$ 0,10 o quilo. Foi escavando o entulho que descobri revistas sobre a Olimpíada. É um desperdício de dinheiro. Um montão de revista, tudo novo, na caixa — revelou o catador, que pretende recolher o que puder das caixas com revistas sobre a Olimpíada, produzidas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e editadas em francês, espanhol e português.
Limpo até o fim do mês
A proximidade do terreno com entulho da Creche Paulo Niemeyer, com capacidade para acolher 150 crianças, tem sido criticada por quem passa pelo local.
— Não entendo como deixam isso tudo aí durante todo esse tempo. E aqui perto tem creche, tem locais de trabalho de um monte de gente. Quero ver se vão deixar isso até o verão, quando pode haver um surto de doenças provenientes do mosquito — teme a auxiliar de escritório Rosângela Magalhães, de 43 anos.
Por meio de nota, a Secretaria municipal de Conservação e Serviços Públicos informou que “já iniciou os serviços de retirada do entulho resultante da demolição do Rio Media Center. Segundo a nota, os trabalhos devem ser concluídos até o fim de novembro.
O Rio Media Center foi inaugurado no dia 27 de julho. Na ocasião, o prefeito Eduardo Paes disse que o local seria mais rico do que o centro de mídia do Parque Olímpico porque lá iriam os jornalistas que não cobririam a Olimpíada, mas as histórias da cidade. Ele foi preparado para receber até 600 jornalistas diariamente e ocupou uma área de 2.700 metros quadrados, com 130 estações de trabalho, salas de reunião, telões para acompanhamento das competições, auditórios, dois estúdios de TV e seis de rádio, além de pontos para geração de imagens.
Segundo a prefeitura, “a estrutura do pavilhão era temporária desde a concepção”. De acordo com o Executivo, “a construção foi realizada em parceria com a iniciativa privada, sem custos para o município”. A prefeitura informou ainda que “o terreno foi vendido ao Consulado dos Estados Unidos e deverá ser entregue aos compradores sem a estrutura, conforme previsto no contrato”. O consulado teria comprado também o terreno onde hoje ainda está instalado a sede do Comitê Rio-2016, que fica ao lado.
Fonte: “O Globo”.
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