A divulgação dos últimos resultados do Pisa trouxe a confirmação do gigantismo do nosso desafio de assegurar que todos os meninos e meninas no Brasil não só estejam na escola, mas que ali aprendam sem que se aprofundem ainda mais as desigualdades educacionais. Sim, tivemos uma pequena melhora, mas não o suficiente para nos tirar do terço inferior do ranking, e comparamo-nos mal com Chile e Costa Rica, só para citar dois países latino-americanos.
Em outros artigos, tenho enfatizado o que precisa ser feito para superar essa situação, como tornar a carreira de professor mais atrativa, investir em uma formação docente mais conectada com a prática, conforme as diretrizes recém-aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação, alfabetizar com base nas melhores evidências científicas, melhorar a gestão educacional e produzir material de qualidade, consistente com a Base Nacional Comum Curricular, para apoiar a ação dos mestres.
Mas, logo depois da divulgação dos resultados, as redes sociais foram inundadas de propostas que nenhum dos melhores países no Pisa adotou e que a ciência definitivamente não respalda, a maior parte voltada a ressuscitar a educação que tínhamos no passado, percebida como excelente, embora na verdade se destinasse a bem menos da metade das crianças e adolescentes.
Aprendemos muito, nas últimas décadas, sobre como incluir milhares de crianças e jovens nas escolas. Agora precisamos fazer com que todos aprendam, especialmente os jovens de meios mais vulneráveis. Neste último sentido, não basta olhar para as práticas que os melhores países adotam agora. É preciso aprender a fazer a transição da situação atual para a sonhada.
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O que mais falta ao Brasil talvez seja aprender consigo mesmo. Aqui no país, o Ceará tem sido o que mais avançou em alfabetização. Como? Investe em pré-escola de qualidade, alfabetiza de acordo com o que a ciência recomenda e faz sólida avaliação de aprendizagem. No ensino médio, Pernambuco é referência. Aumentou a jornada escolar —nenhum dos melhores países têm só 4 horas de aula— e focou o protagonismo dos jovens. Em dez anos, passou da penúltima posição no ranking dos estados no Ideb para a terceira. Outros estados avançaram no ensino técnico —como São Paulo, com resultados excepcionais, ou a Paraíba, mais recentemente.
Muitos secretários estão fazendo visitas técnicas para se inspirar nestas boas experiências, buscando adaptá-las para seus territórios. É o que precisa ser feito: olhar para o que dá certo no Brasil, pisar no acelerador e coordenar este esforço em âmbito nacional.
Fonte: “Folha de São Paulo”, 10/01/2020