Grande parte dos países estão modificando suas matrizes elétricas com a finalidade do cumprir as metas estabelecidas para redução da emissão dos gases de efeito estufa (GEE) por meio da ampliação da participação das fontes mais limpas de geração. No entanto, o caminho para o equilíbrio é longo e requer reflexões. A China, país que mais cresce no mundo, apesar dos recentes esforços para inserção das renováveis, ainda possui uma matriz elétrica com predominância do carvão. Líder do ranking tanto da produção quanto do consumo, a China representa 27% da eletricidade mundial, quase 11 vezes mais do que o Brasil.
A ascensão da economia chinesa gerou efeito ambientais negativos para além de suas fronteiras. Por isso, o país vem se comprometendo com investimentos em energias renováveis e redução da emissão de gases poluentes. As, projeções indicam que, em 2040, a matriz chinesa terá a participação do carvão reduzida dos atuais 72% para 47%, com o gás natural representando 8%, a nuclear 12%, a hídrica 19%, a eólica 9% e a solar 5%. Ou seja, o carvão manterá a predominância e a promessa é de que as fontes intermitentes atingirão 14% da matriz chinesa, mas só em 2040. Os dados confirmam que, apesar do discurso ambientalista –importante para conquistar o mundo comercialmente–, a China mantém o foco no crescimento econômico. E, para tanto, mostra compreender que um grande sistema de potência se faz com fontes estruturantes. Os recursos energéticos são estratégicos para os chineses.
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Por outro lado, a matriz elétrica europeia vem expandindo, de fato, a participação das fontes renováveis de energia. A participação na capacidade instalada das fontes eólica e solar, que era inexistente na década de 1990, passou de 8% (59,6 GW) em 2007 para 27% (248,3 GW) em 2017. No entanto, os países que optaram por mudanças na composição da matriz elétrica vêm enfrentando problemas. A Alemanha, um dos principais impulsionadores da inserção renovável na matriz elétrica europeia, está passando por alguns percalços. O país decidiu não só ampliar a matriz por fonte renovável como também desligar as suas usinas nucleares e, neste último caso, a motivação foi o acidente da usina nuclear de Fukushima, no Japão. Indústrias vêm criticando o governo alemão pela rejeição à energia nuclear. Sobretudo, a indústria elétrica não renovável, que perde com os subsídios dado aos investidores de plantas renováveis, vem pressionando o governo alemão para alterar o ritmo da Energiewende, política da Alemanha destinada a aumentar a quota de energias renováveis e de eliminar a energia nuclear. No entanto, apesar da prioridade a renováveis, o mix de eletricidade ainda possui grande representatividade do carvão e do linhito, que totalizam 35%, distanciando o país das suas metas climáticas.
Além disso, a população alemã como um todo, também, está sendo afetada pela elevação do preço da eletricidade, que tem acometido os orçamentos familiares. A tarifa de eletricidade alemã foi a mais alta da Zona do Euro no segundo semestre de 2017, destacando a elevada incidência de taxas e tributação. A política adotada pelo governo traz maiores custos de produção de energia e, consequentemente, a elevação das tarifas de eletricidade.
O crescimento da oferta de energia elétrica renovável é um fato e veio para ficar, diante da necessidade de se cuidar melhor do planeta. Entretanto os caminhos da energia, tanto a nível da entrada de novas fontes limpas como de novas tecnologias de produção e uso são tortuosos. Como mostra o exemplo da China, não é nada fácil associar no curto prazo aumento da participação das energias limpas com a necessidade de crescimento econômico e geração de empregos. O custo da imprevisibilidade e dos subsídios para a solar e a eólica ainda é significativo.
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O Brasil tem uma das matrizes elétricas mais limpas, devido às hidrelétricas e agora ao crescimento das fontes eólicas e solar. Temos a biomassa, o gás natural que deverá ser abundante e mesmo a nuclear. Portanto, podemos construir uma matriz diversificada e que dê ao país vantagens comparativas como produtor de energia competitiva. É preciso observar e aprender com as experiências mundiais, mas sem abrir mão das nossas riquezas energéticas e da necessidade de crescimento econômico e geração de empregos.
Fonte: “Poder 360”, 09/07/2019